Coluna Vitor Vogas
Entrevista (Dr. Hércules): “Decidi ser candidato a vereador”
Ele explica por que agora quer voltar para onde sua carreira política começou em Vila Velha. E revela: nunca mais voltará a se candidatar a deputado

Hércules Silveira é ex-deputado estadual. Crédito: Ales
“A decisão está tomada: serei candidato a vereador.” Quem o garante é o médico Hércules Silveira (Patriota), o Doutor Hércules, figura conhecidíssima do eleitorado vila-velhense.
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Após não ter conseguido emendar o quinto mandato consecutivo na Assembleia Legislativa em 2022, o ex-deputado estadual decidiu dar um redirecionamento à carreira política na provável fase final desta. Do alto de seus 84 anos, quer voltar para o local onde começou sua vitoriosa trajetória na cidade de Vila Velha: a Câmara Municipal, aonde chegou em 1989 – após ter exercido um só mandato de vereador em Cachoeiro, sua terra natal.
Tendo acumulado cinco mandatos sucessivos na Câmara de Vila Velha, Hércules elegeu-se deputado pela primeira vez em 2006. No ano passado, mesmo bem votado, ficou como 1º suplente do Patriota. Agora quer voltar às origens no Legislativo Municipal, entendendo ter completado seu ciclo no Parlamento Estadual. Inclusive, ele também assevera: “definitivamente”, nunca mais disputará mandatos na Assembleia. Como deputado estadual, considera-se aposentado. “Acho que ali já dei minha contribuição. Isso está totalmente fora de questão. Anota aí e pode me cobrar.”
A única hipótese de Hércules voltar ao Legislativo Estadual, afirma, é em caso de vitória do deputado Pablo Muribeca, de quem é 1º suplente, na eleição a prefeito da Serra no ano que vem. Mas seu foco está mesmo na Câmara. Por quê? Não seria um retrocesso para ele? Um atestado de decadência política? Apego a cargos eletivos? Ou uma demonstração de humildade em dar um passo atrás e recomeçar?
É o que ele mesmo responde na entrevista abaixo, na qual também deixa uma alfinetada muito sutil no atual prefeito, Arnaldinho Borgo (Podemos), e outra ainda mais sutil no antecessor de Arnaldinho, Max Filho (PSDB).
O senhor será candidato a vereador de Vila Velha no ano que vem?
Sim! Estou decidido a ser candidato a vereador.
Por quê?
Primeiro porque não tenho recursos, não tenho nenhuma condição financeira de arcar com uma candidatura majoritária. O próprio partido em que estou hoje, o Patriota, também não tem essa estrutura para bancar uma candidatura majoritária. A primeira razão é essa. A segunda é que eu quero ir para a Câmara não para fazer simplesmente oposição a ninguém e sim para ajudar meu município. Tenho a humildade de voltar a ser vereador. Acho que alguns políticos em Vila Velha, vou me reservar o direito de não nominá-los, deveriam ter a humildade de voltar para a Câmara Municipal para ajudar o município. Deveriam ter a humildade de achar que ser vereador não é nenhum demérito. Na verdade, o mandato de vereador é o mais importante de todos.
Por quê?
Porque o vereador é o vizinho da necessidade. Ele sorri e chora com o munícipe. É parceiro das alegrias, sorrindo, e é parceiro também das lágrimas nos momentos de tristeza. O vereador é tudo para os cidadãos: motorista, psicólogo, assistente social. Quando exerci meu primeiro mandato de vereador, em Cachoeiro de Itapemirim, o mandato era voluntário. Em 1970, fui o candidato a vereador mais votado da cidade. Eu era motorista do Serviço de Assistência Médica Domiciliar de Urgência (Samdu), hoje mais ou menos equivalente ao Samu. Meu salário era o de motorista de ambulância. Quero deixar claro: não sou contra o pagamento de salário atualmente para os vereadores. Ao contrário, acho que tem vereadores que merecem ganhar até mais. Mas tenho que colocar no meu currículo que fui vereador até voluntário.
O senhor não quis nominar, mas eu gostaria de fazê-lo. Quando diz que alguns políticos vila-velhenses deveriam ter a humildade de “voltar para a Câmara Municipal”, o senhor refere-se especificamente ao ex-prefeito Max Filho? Ele começou a carreira política justamente como vereador de Vila Velha e, por coincidência, o primeiro mandato da vida dele coincidiu com o seu primeiro mandato na cidade: vocês dois foram colegas de vereança na legislatura de 1989 a 1992. Seu recado se aplica a ele?
Isso é por sua conta, não é por minha conta não.
Como está a sua relação com Max?
Está boa. Sempre foi boa.
E sua relação com o prefeito Arnaldinho?
Não quero fazer nenhum juízo com relação à pessoa dele. Com relação à administração, naturalmente têm acontecido algumas coisas boas, como a parceria dele com o Governo do Estado. Muitas obras do município é o Governo do Estado que está fazendo. Isso é muito bom, apesar de eu ter as minhas divergências com o governo…
Com o governador Casagrande, para ser mais específico, não?
Sim, com o governador.
Pelo fato de ele não lhe ter aberto as portas do PSB na última janela partidária? Em março para abril do ano passado, o senhor precisava urgentemente sair do MDB e se filiar a um partido que topasse lhe dar legenda para concorrer à reeleição na Assembleia. Com as chapas já bem amarradas, nenhuma sigla aceitava recebê-lo. O senhor chegou a preencher a ficha de filiação no site do PSB, mas a direção estadual não a homologou…
Não foram só as portas do PSB não, mas também as de outros partidos em que o governador poderia ter me ajudado a entrar. Ele tinha um compromisso comigo e não cumpriu esse compromisso.
Até que o senhor acabou entrando no Patriota, digamos, “no apagar das luzes”…
Eu estava morrendo afogado e agarrei em ferro em brasa.
O presidente estadual do Patriota, Rafael Favatto, jogou-lhe a boia de salvação?
Isso aí. Ele e o Erick Musso. Os dois me ajudaram muito. Acabei ficando como primeiro suplente do Patriota na Assembleia. Tive muito mais votos do que muitos que entraram. Não que esses que entraram não mereçam estar ali, mas o sistema eleitoral é injusto.
Já que estamos falando do Patriota, no início da nossa entrevista, o senhor apontou a falta de recursos do partido como um dos motivos que explicam sua decisão de concorrer a vereador. Eu fiquei intrigado, pois o senhor na verdade não precisa disputar a próxima eleição municipal pelo Patriota. A rigor, como não tem mandato, pode trocar de sigla a qualquer tempo. O senhor vai necessariamente candidatar-se pelo Patriota ou cogita concorrer por outra sigla?
Essa segunda afirmativa é positiva. Considero a possibilidade de trocar de partido, mas, pelo menos no momento, não tenho essa intenção de sair. Estou esperando a homologação da fusão do Patriota com o PTB. Sou o 1º suplente do Patriota na Assembleia, ou seja, do [deputado] Pablo Muribeca. E pode dar resultado positivo para o Muribeca na Serra. Se ele ganhar a eleição para prefeito, eu assumo a vaga dele na Assembleia em 2025. Quando vier a fusão do PTB com o Patriota, poderei sair sem perder o direito à suplência.
Após a fusão, o próprio Pablo deve sair para o Republicanos, para disputar a Prefeitura da Serra…
Eu diria que ele já está com um pé e meio no Republicanos. E acredito que a fusão do Patriota com o PTB deverá ocorrer até o final do mês que vem. Aí poderei ficar mais livre para trocar de partido. Tenho convite de muitas siglas, mas prefiro não as nominar.
Não há mesmo a menor chance de o senhor mudar de ideia e disputar a eleição majoritária?
Não. A minha decisão é essa e já está tomada. Não vou ser candidato a prefeito. Quero voltar para a Câmara Municipal, com a postura de ajudar o município, não é ajudar o prefeito não. Arnaldinho se elegeu vereador [em 2012] no meu gabinete. Ele foi meu assessor parlamentar na Assembleia e saiu do meu gabinete vereador*. Então não tenho nada a reclamar do Arnaldinho. Mas eu, pelo menos, não tenho tido nenhuma aproximação com a administração dele. Mas torço para dar certo.
Após ter exercido quatro mandatos na Assembleia, voltar a ser vereador a esta altura não pode ser visto como um retrocesso, ou até como certa decadência, em sua trajetória política?
Tem gente que pensa assim. Quem pensa assim não pensa em ajudar o município. É a avaliação de gente que não tem essa humildade de querer voltar. É aquilo que te falei no início em relação à humildade. Não vamos para a Câmara para brigar com ninguém. E não penso em ser presidente da Câmara. Não quero mais ser ordenador de despesa. Isso dá muito trabalho.
Se voltar para a Câmara, o senhor não será candidato à presidência?
Não serei. Fiscalizar os atos do Executivo, com certeza farei.
E, caso volte a ser vereador, o passo seguinte, natural, será tentar voltar para a Assembleia, no pleito seguinte, em 2026?
Definitivamente, não.
Agora o senhor me surpreendeu. Por que não, deputado?
Acho que, na Assembleia, já dei minha contribuição.
Então isso está fora de questão? O senhor se aposentou como deputado?
Totalmente. Anota aí e pode me cobrar.
Está anotado.
* De outubro de 2010 a julho de 2012, o hoje prefeito Arnaldo Borgo Filho foi assessor lotado na Comissão de Saúde da Assembleia, então presidida por Hércules Silveira. Deixou a função para concorrer ao cargo de vereador de Vila Velha, para o qual efetivamente se elegeu – pelo MDB, partido de Hércules à época –, vindo a emendar dois mandatos na Câmara pela mesma sigla, de 2013 a 2020, ano em que se elegeu prefeito pelo Podemos.
