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Coluna Vitor Vogas

Armandinho quebra o silêncio… e ataca Casagrande e chefe do MPES

Falando em “conluio”, “golpe”, “prisão medieval” e “omissão de Luciana”, vereador afastado se filia ao PL para tentar voltar à Câmara de Vitória

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Armandinho exibe sua ficha de filiação ao PL, entre Gilvan da Federal e o Pastor Carlos Salvador, dirigente estadual do PL e representante do senador Magno Malta. Crédito: Assessoria de Imprensa

O vereador Armandinho Fontoura havia dado a sua última entrevista, ao EStúdio 360, no dia 14 de dezembro de 2022. Ele foi ao nosso telejornal para falar de seus planos como presidente eleito da Câmara de Vitória. No dia seguinte, foi preso pela Polícia Federal por decisão de Alexandre de Moraes, a partir de uma petição levada ao ministro do STF pela procuradora-geral de Justiça, Luciana Andrade. Passou 369 dias atrás das grades. Ontem, 476 dias desde a sua última entrevista, Armandinho quebrou o silêncio. Falou numa entrevista coletiva e em discurso para apoiadores, em seu ato de filiação ao Partido Liberal (PL), de Jair Bolsonaro, sigla pela qual tentará voltar pelas urnas a seu assento na Câmara de Vitória.

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Para quem esperava que o vereador afastado pudesse “aliviar” nessa retomada de sua carreira política, após a traumática experiência no cárcere, Armandinho surpreendeu. Simplesmente partiu para o ataque (ou contra-ataque). Com sangue nos olhos e muita coisa visivelmente “engasgada”, investiu diretamente contra o governador Renato Casagrande (sem citá-lo pelo nome), “o governo do PSB” e, acima de tudo, contra a chefe do Ministério Público Estadual (MPES), citada nominalmente por ele.

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Apontando o “mau-caráter de pessoas que estão à frente do sistema de poder estadual”, Armandinho disse ter denunciado “a omissão da procuradora-geral [de Justiça], Luciana Andrade”. Acusando um “golpe”, afirmou para todos os presentes que “a PGJ atuou em conluio com membros do governo do PSB”, com o intuito de o calarem, o perseguirem e se vingarem dele em virtude das denúncias feitas por ele contra agentes do governo Casagrande, especialmente como relator da famigerada CPI da Cesan na Câmara de Vitória. Disse ter ficado por mais de um ano “em situação medieval” no presídio em Viana, “por vingança e interesses políticos” e em função de “desejos e obsessões doentias” dos representantes do “sistema estadual de poder”.

E, usando algumas frases de efeito moral, apresentou-se na pele da persona que vai incorporar daqui para a frente para voltar à política revigorado, em parte por senso de oportunidade, em parte porque as circunstâncias o empurraram para isso. Daqui para a frente ele é o “herói da direita”, o “perseguido”, o “injustiçado”, o “candidato antissistema”, aliás, o homem que enfrentou o sistema, não se curvou e perseverou. Evidências disso eram os slogans na decoração do auditório do hotel da Praia do Canto que foi palco do evento de filiação: “Herói” era um deles; “Voz da Direta” era outro.

“Alexandre Moraes tirou tudo de mim, mas não tirou minha dignidade!”, declarou Armandinho. “O sistema estadual tentou me calar enganando o ministro, mas o tiro saiu pela culatra!”, exclamou. “Sou um sobrevivente dessa guerra e uma testemunha viva de que o sistema não pode transformar uma mentira em verdade!”, definiu-se para o público.

E, exibindo à plateia o aparelho de monitoramento que leva na perna direita desde 19 de dezembro de 2023, data em que Moraes o soltou da prisão, mediante uma série de cautelares: “Esta tornozeleira eletrônica que me constrange e me oprime é minha certidão de bons antecedentes, de lutar pelo que é certo”. Pareceu emular o deputado estadual Capitão Assumção (PL), que, em dezembro de 2022, discursando da tribuna da Assembleia Legislativa, exibiu sua própria tornozeleira, também imposta por Moraes, chamando-a de “troféu”*.

“Mais de um ano sem denúncia, sem ser ouvido e, até hoje, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, uso tornozeleira. Tenho restrição na minha liberdade de ir e vir, hora para retornar e sou proibido de usar redes sociais. Meu crime: denunciar a corrupção. […] Fui preso por exercer com dignidade o meu mandato parlamentar, por exercer a liberdade de expressão e meu dever de fiscalizar. Não me corrompi. Não fiz vista grossa com medo do sistema. Não me rendi para ficar bem com os que estão no poder”, discursou o agora pré-candidato do PL a vereador.

Declarando-se vítima de perseguição por parte dos representantes do “sistema de poder estadual” (leia-se o Governo do Estado e o MPES), Armandinho protestou:

“Isso [fiscalização parlamentar e críticas] nunca foi criminalizado nem marginalizado, pois é a essência do Estado Democrático de Direito. A diferença no meu caso foi o momento de instabilidade no país e o mau-caráter de pessoas que hoje estão à frente do sistema de poder estadual. Assim […] nasceu essa falácia local de combate a atos antidemocráticos no Espírito Santo […]. Eu, mesmo jovem, atrapalhei esquemas de corrupção do governo Casagrande.”

Assinalando a “omissão de Luciana Andrade”, Armandinho apontou outro dedo sem citar o nome: “Tem deputado aí que tá tudo arquivado pela PGJ. E isso ninguém fala…”

E apontou, também, “corrupção no sistema estadual”: “Denunciei quem estava transformando os denunciantes em denunciados, para calar as nossas vozes e nos intimidar. Lutei contra um sistema estadual corrupto, mas jamais imaginei que uma trama local e absurda pudesse ser usada para me calar, induzindo ao erro o ministro Alexandre de Moraes, uma trama local que atropelou todos os valores civilizatórios e ritos do Estado de Direito, tudo isso baseado numa narrativa falsa movida por vingança e interesses políticos.”

Armadinho disse ter sido vítima de uma armação com o objetivo de o silenciar: “Não conseguiram me calar pelas vias legais. Então, na calada da noite e na sombra do Estado de exceção, armaram para silenciar uma voz independente de um jovem parlamentar”.

Conluio”

Ele tornou a criticar a procuradora-geral de Justiça e, por tabela, o governo Casagrande: “O meu pedido de prisão partiu da PGJ. Ela fez uma petição ilegal e inconstitucional diretamente ao ministro Alexandre de Moraes, atribuição que a lei federal só reserva à Procuradoria-Geral da República. A PGJ atuou em conluio com membros do governo do PSB para investigar crimes jamais cometidos e produzir narrativas falsas e, se aproveitando do ambiente de anormalidade institucional, me enquadrar na tese elástica dos atos antidemocráticos, milícia digital, ‘vendedor de picolés’… Inventaram e fabricaram crimes”, ironizou.

Armandinho se disse vítima de “violação dos direitos humanos”: “O que ocorreu comigo e com outras pessoas é sintoma do retrocesso civilizatório e da fragilidade das instituições capixabas, que serviram a uma agenda de violação dos direitos humanos, tudo por conta dos interesses pessoais e políticos de pessoas à frente do sistema estadual de poder, pessoas que colocaram o Estado Democrático de Direito a reboque dos seus desejos e obsessões doentias. […] Isso é constrangedor porque nenhum professor de Direito consegue explicar aos seus alunos como isso aconteceu.”

Ele reclamou do fato de ter sido impedido de assumir a presidência da Câmara de Vitória em 1º janeiro de 2023, mesmo tendo sido eleito pelos colegas em agosto de 2022, porque, na data da posse, já estava preso por determinação de Moraes: “Não tomei posse pelo golpe dado por essa trama local disfarçada de combate a atos antidemocráticos”.

Armandinho fez questão de destacar que a Procuradoria-Geral da República foi sempre contra a ordem de prisão pedida pelo MPES e determinada por Moraes: “Foram quatro pareceres acusando a aberração dessa petição local!”

Também fez questão de ressaltar os relatórios finais de agentes da Polícia Federal, integrantes da Operação Lesa Pátria, “registrando não terem encontrado nenhuma prova ou indício de crime praticado por mim, desautorizando expressamente a narrativa da petição da PGJ, que me deixou na prisão em situação medieval, por mais de um ano sem ser ouvido e sem denúncia […] até hoje”.

Armandinho declarou que vai “lutar pelo Estado de Direito”.

A coluna entrou em contato com o MPES. Por meio de sua assessoria de comunicação, Luciana Andrade preferiu não responder às declarações de Armandinho.

Os apoiadores presentes

O evento de filiação de Armandinho contou com a presença, no palco, de expoentes do bolsonarismo no Espírito Santo, entre os quais o deputado federal Gilvan da Federal e o ex-deputado federal Carlos Manato.

Destoando dos demais, por não fazer parte desse campo ideológico, também subiu ao palanque o ex-vice-governador César Colnago (MDB). Ele compareceu por ter uma relação pessoal com Armandinho, que chegou a ser seu assessor parlamentar na Assembleia, quando Colnago ainda era deputado estadual.


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