Coluna Vitor Vogas
Aridelmo: “Vamos restabelecer o elo entre o prefeito Pazolini e o Governo do Estado”
“Deixamos as divergências de lado”, afirma o novo articulador político do prefeito de Vitória, que, de adversário duro de Casagrande nas urnas há cinco meses, passou ao papel de protagonista na operação da prefeitura para reconstruir a ponte com o Palácio Anchieta
Minha conversa com Aridelmo Teixeira (Novo) no último domingo (12) não poderia ter ocorrido em local mais simbólico para o momento: uma esquina da Avenida Rio Branco, na altura da Ponte Ayrton Senna, durante a inauguração da ciclovia que agora atravessa o coração da Praia do Canto, obra assinada pela gestão do prefeito Pazolini (Republicanos).
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Um dos campeões de nome emprestado a logradouros no país, o Barão do Rio Branco é um vulto da diplomacia brasileira. Agora reincorporado ao secretariado de Pazolini, Aridelmo está estreando em função que lhe exige demonstrar novas habilidades: entre elas, justamente o exercício da diplomacia política, para abrir novas vias de diálogo, (re)construir pontes e, como ele mesmo admite, “restabelecer o elo” com o governo Casagrande.
“A relação está sendo construída, e entendo que os dois lados querem o melhor para o Estado e para a cidade. As divergências foram sendo colocadas de lado e [fomos] dando foco maior ao que pode ser construído de forma republicana, respeitando a independência das duas instâncias de gestão, mas voltado para a cidade. Acredito que o caminho que está sendo trilhado vai com certeza restabelecer esse elo entre o Governo do Estado e o prefeito da Capital.”
Na avaliação do novo secretário municipal de Governo, essa ponte institucional com o Palácio Anchieta jamais foi totalmente implodida, apesar do antagonismo público entre prefeito e governador nos últimos anos, sobretudo no último. Por isso, ele frisa o verbo “construir”, mas evita falar em “reconstruir” a relação.
“A relação está sendo construída. Quando você fala em ‘reconstrução’, parece que alguma coisa foi destruída. A ponte sempre existiu. Às vezes ficou mais congestionada, mas queremos realmente dar continuidade e amplitude nessa relação, para que a sociedade ganhe.”
Já exercitando a veia diplomática, Aridelmo fala em se concentrar nos pontos que unem o governo Pazolini em Vitória e o governo Casagrande no Estado:
“Vamos focar naquilo que nos aproxima. Com certeza, se você olhar, temos muito mais coisas que nos aproximam do que coisas que nos afastam. Todos nós queremos uma cidade melhor, mais igual e mais segura. O que precisamos ter é habilidade suficiente para encontrar os elos em comum, para que isso se reflita em benefícios para a sociedade.”
Aridelmo foi convocado por Pazolini para voltar à sua equipe de governo num momento crucial para o prefeito. O ex-secretário da Fazenda de Vitória soma-se imediatamente ao esforço do chefe e aliado visando se reposicionar perante o eleitorado da cidade e conseguir um bom lugar no grid de largada da corrida pela reeleição.
Após problemas na primeira metade da prova, o prefeito inicia uma corrida de recuperação de dar inveja ao grande piloto que dá nome àquela ponte no fim da Avenida Rio Branco. E, como Ayrton Senna, acelera.
Embate eleitoral: “o exterminador de futuros”
Fiz a Aridelmo a pergunta quicando na frente de todos desde que foi confirmado o seu retorno à equipe de Pazolini, agora na função de articulador político do prefeito. Pazolini entrou na fase “paz e amor”, e Aridelmo chega com papel de protagonismo na operação diplomática para (cito o secretário) “restabelecer o elo” com o governo Casagrande.
Ocorre que, há pouco mais de cinco meses, o líder local do Novo disputou o cargo de governador na oposição a Casagrande e, durante a campanha, foi um dos adversários eleitorais que desferiram os ataques mais pesados ao governador – muito mais que Manato (PL), por exemplo, no 1º turno.
Franco atirador, Aridelmo chegou a abrir o debate final da TV Gazeta no 1º turno chamando Casagrande de “o exterminador de futuros”. No 2º turno, ele subiu no palanque de Manato e foi precocemente anunciado pelo candidato do PL como seu secretário de Estado da Fazenda em caso de vitória.
Esse passado ainda tão recente e de tamanha beligerância não poderia na verdade atrapalhar agora essa almejada reaproximação em vez de contribuir com ela?
Para Aridelmo, nem um pouco.
“Acredito que não. Em momento algum eu feri a honra pessoal. Ali estávamos debatendo ideias. E, quando você debate ideias, saem soluções. O que não pode é omissão. Se você não concorda com o que está acontecendo, você tem que ser claro o suficiente. Mas ali nós debatemos ideias, nunca entramos num embate pessoal, e é isso que vai preponderar na gestão. Tenho certeza de que o que demos e também o que recebemos durante a campanha são ideias e não serão obstáculo para avançarmos agora nesses passos.”
“Chegamos, organizamos, agora é preciso mostrar”
Aridelmo foi partícipe importante da primeira terça parte da administração de Pazolini. Após ter participado da equipe de transição do prefeito eleito no fim de 2020, foi secretário municipal da Fazenda de janeiro de 2021 a março de 2022. Como tal, ele discorda da avaliação de que a gestão rateou um pouco na primeira metade da prova.
Ao contrário, afirma, os dois primeiros anos foram de muita dificuldade; anos dedicados a arrumar a casa e recuperar a capacidade de investimentos de Vitória com recursos próprios:
“Os dois primeiros anos foram uma reconstrução da prefeitura, na organização interna, na capacidade de investimentos e na independência financeira do município. Vitória no passado era uma cidade independente financeiramente. Nas últimas gestões, ela foi perdendo isso. Passou a precisar de financiamento e de repasses dos governos estadual e federal. Então os primeiros dois anos foram muito duros no sentido de recuperar a nossa capacidade.”
A missão, segundo ele, foi cumprida: “Hoje podemos dizer que a Prefeitura de Vitória é uma gestão independente, que consegue investir com recursos próprios. Pode até receber recursos de financiamento, parcerias importantes com o governo estadual e o federal, mas ela consegue sobreviver sozinha”.
No entendimento geral de especialistas sobre um ciclo eleitoral de quatro anos, no primeiro você toma pé da situação e se organiza; no segundo, você planta; no terceiro, você colhe; no quarto, você vai para a reeleição. Aridelmo defende que agora, no terceiro ano da gestão Pazolini, a prefeitura precisa “dar vazão para a sociedade” ao que foi feito no primeiro biênio. É um trabalho para a comunicação institucional, área que, por sinal, também está sob o controle de Aridelmo, na Secretaria de Governo.
“O momento agora é de unir a base para dar visibilidade aos dois primeiros anos da gestão que, na nossa avaliação, foram muito significativos, mas nós precisamos dar vazão a isso para que a sociedade consiga compreender a amplitude das ações que foram tomadas. O objetivo agora é construir a entrega da gestão para a sociedade. A política ainda está distante.”
Traduzindo com minhas palavras: “Chegamos, organizamos, agora é preciso urgentemente mostrar”.
Reforma tributária preocupa
A primeira atitude que Aridelmo tomou após aceitar o convite de Pazolini para assumir o novo cargo foi ligar para o presidente da Câmara Municipal e aliado do prefeito, Leandro Piquet (Republicanos).
Em sua primeira semana no cargo de secretário de Governo, completada nesta quinta-feira (16), o professor e dono da faculdade Fucape priorizou o estabelecimento de contatos com todos os representantes do Espírito Santo no Congresso Nacional, principalmente os deputados federais.
Aridelmo está particularmente preocupado com os rumos que podem ser tomados pela reforma tributária do governo Lula no Congresso. A proposta, a princípio, unifica vários impostos, inclusive o ICMS e o ISS. Se por um lado a simplificação é positiva em muitos aspectos, por outro prejudica especialmente os municípios que são grandes arrecadadores do Imposto Sobre Serviços (ISS).
É o caso de Vitória, que tem boa parte da receita formada por ISS, em percentual muito maior que o de qualquer outra cidade capixaba. Assim, explica Aridelmo, o texto original da reforma pode comprometer bastante a capacidade de arrecadação própria de Vitória.
“O ISS é o que nos dá a independência financeira. Os deputados federais, principalmente, já vão entrar conosco numa parceria muito importante com relação à reforma tributária, pois a princípio a proposta vai tirar a independência dos municípios e transferir isso para outro nível.”
A ideia, conta Aridelmo, é escolher entre os 10 deputados federais capixabas um representante de Vitória no debate sobre a reforma tributária a ser travado nos próximos meses na Câmara e no Senado. Dois dos cotados são os deputados do partido do prefeito: Amaro Neto e Messias Donato.
Já nesta semana, a fim de (re)abrir o diálogo institucional, Aridelmo já conversou com o secretário-chefe da Casa Civil do governo Casagrande, Davi Diniz, e apresentou-se formalmente como secretário de Governo de Vitória.
Articulador político do governador, Diniz é mais ou menos o espelho de Aridelmo no Executivo estadual.
Aleluia! Novo agora prioriza a eleição de vereadores
Segundo Aridelmo, o estatuto do Novo mudou, e agora ele não precisa suspender sua filiação à sigla para exercer o cargo na prefeitura – ao contrário de quando chefiou a Secretaria da Fazenda de Vitória. O que muda com isso? “Agora o Novo está formalmente no governo Pazolini.”
Para a eleição do ano que vem, Aridelmo diz que o foco do partido (aleluia!) mudou: agora, o Novo quer formar chapas fortes para eleger vereadores em Vitória e em outros municípios capixabas:
“Provavelmente o nosso foco não será de cargos de Executivo. Vamos procurar construir uma base de vereadores no município. Essa é a estratégia dominante em Vitória e em outras cidades, para que sejamos competitivos no Legislativo.”
Aridelmo ainda rechaça a especulação de que pode ser candidato a vice-prefeito na chapa de Pazolini: “Isso não foi conversado. Não passa [pela minha cabeça], e não foi estruturado dessa forma”.
Em tempo: realmente nunca entendi por que um partido pequeno como o Novo, que nunca fez nem sequer um vereador na Grande Vitória e que precisa começar por baixo, priorizou até agora a disputa para cargos do Executivo, com candidatos invariavelmente mal votados – como o próprio Aridelmo a governador no ano passado e o coronel Nylton Rodrigues a prefeito de Vitória em 2020.
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