Coluna Valor em Foco
Dólar a R$ 6. Até quando?
Precificação do dólar nada mais é do que o somatório das ações das pessoas físicas e jurídicas no sistema financeiro
Encontrar um culpado para o dólar a R$ 6 parece ter dominado a pauta. De um lado, o “mercado inescrupuloso”… de outro, o “governo gastador”. Mas sejamos sinceros: mais importante do que endereçar a culpa é solucionarmos o problema.
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Para começar, o tal “mercado” não é um ser tangível com interesses próprios. Ele não se importa se você gosta do presidente. Ele não se importa se a sua carteira está perdendo para o CDI. Ele não quer saber se você está satisfeito ou apreensivo com o futuro do país. Ele não dá a mínima simplesmente porque não é um ser racional.
Mas apesar de não se importar com nada, o “mercado” precifica os ativos com base nas ações daqueles que estão inseridos no sistema financeiro, incluindo pessoas comuns como você e eu.
Em resumo, a precificação do dólar nada mais é do que o somatório das ações das pessoas físicas e jurídicas no sistema financeiro.
Ok, agora vem uma pergunta fundamental: o “mercado” pode eventualmente errar?
Aí está um ponto sensível da discussão que divide opiniões. O chamado mercado eficiente acerta sempre, enquanto que o mercado ineficiente pode cometer alguns deslizes.
Sendo eficiente ou não, o mercado precifica e esses preços impactam significativamente nas vidas das pessoas. Igualmente fundamental, essa pergunta é absolutamente irrelevante nesse contexto.
Exagerado ou não, o dólar está a R$ 6 e ponto final. Em outras palavras, não cabe questionar se o dólar está no lugar errado. Afinal, ele é consequência, não causa. O mesmo se aplica à inflação e ao juro.
Se a venda de picolés aumenta no verão, vendê-los no inverno não fará o calor chegar mais cedo.
Da mesma forma, se o cenário de incerteza eleva o dólar, que por sua vez impacta na inflação, que finalmente força o aumento do juro… por que razão poderíamos defender a queda do juro como solução? Culpar o Banco Central é culpar a consequência.
Se realmente quisermos resolver a questão, devemos focar na causa. Devemos focar na construção de um cenário mais previsível e favorável para investidores estrangeiros. Isso sim ajuda a baixar o dólar.
Demonstrar compromisso com o orçamento público, deixar a dívida sob controle, evitar declarações que culpam as consequências no lugar das causas. Esse é, de fato, um caminho.
Enquanto não focarmos na causa, R$ 6 deverá ser pouco para o dólar.
Sobre o autor: Marcel Lima é sócio e assessor de investimentos da VALOR
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