fbpx

Coluna João Gualberto

Violência Urbana

A explosão populacional provocou um deslocamento no mundo cristão, havendo enorme migração dos católicos para as várias denominações evangélicas presentes em nosso espaço

Publicado

em

Fonte: Agência Senado

Uma consequência muito interessante de tornarmos públicas nossas ideias, como eu faço nesses artigos, são as inteirações que isso possibilita. Dizendo de outra forma, receber críticas, elogios e sugestões nos ajudam na construção da caminhada intelectual, da construção de posições. Tenho grande prazer em discutir os textos publicamente.
A mais importante interlocução que tenho nos últimos tempos é com o professor e intelectual Alexandre Caetano, e que me brinda com suas observações. Caetano é um importante observador da cena social e política capixaba e brasileira, com vasta cultura humanística. Temos conversado através do WhatsApp sobre muitos temas. Nos últimos dias, o tema foi a urbanização acelerada da Região Metropolitana da Grande Vitória. Venho tratando desse assunto, pela evidente associação que tem com o fenômeno evangélico neopentecostal na nossa região.
No último artigo, associei o crescimento vertiginoso da Grande Vitória, a partir dos anos 1970, à erradicação dos cafezais capixabas. Creio, mesmo, que os fenômenos tenham estreita relação, mas Caetano lembra que existem outros fatores. Para ele, o fluxo populacional também veio de outros estados como Bahia e Minas Gerais, para trabalhar nas grandes obras das plantas industriais, e também com o boom da construção civil, a partir da década de 1980.
Em nossas trocas de ideias ele afirmou: “A verticalização da Praia Costa e da Praia do Canto, a expansão de áreas como Jardim da Penha e Jardim Camburi, em Vitória; de Jardim Itapoã e Coqueiral de Itaparica, em Vila Velha; da região da Grande Laranjeiras, e outros conjuntos habitacionais, em Serra são fenômenos que estão muito distantes daqueles produzidos pela desocupação de mão de obra provocada pela erradicação dos cafezais”. Creio que essa ampliação das causas do nosso crescimento urbano agrega fatores explicativos, de fato, muito importantes ao tema que venho tratando.
Quero, entretanto, aproveitar o ensejo de ter voltado ao assunto para fazer uma outra observação analítica. Venho afirmando que a explosão populacional, em nossa região provocou um deslocamento no mundo cristão, havendo enorme migração dos católicos para as várias denominações evangélicas presentes em nosso espaço, que caminham para serem majoritárias dentro de algum tempo.
Entretanto, um outro fenômeno também está acontecendo, produto desse mesmo movimento, do crescimento urbano desenfreado e sem regras no Brasil: a explosão da violência. As estruturas de autoridade paterna, presentes no mundo rural não se reproduziram no espaço urbano. A degradação dos padrões de residência, a dificuldade de preservar valores familiares tradicionais, a oferta de oportunidades de sobrevivência com pequenas infrações que o mercado das drogas passou a oferecer de forma crescente, minou a coesão familiar, até então existente.
A partir, sobretudo, dos anos 1980 e 1990, o tráfico das drogas ganhou cada vez mais a adesão da juventude dos bairros periféricos. O mercado das drogas no Brasil é curioso. Pelo noticiário, só tem oferta. A demanda majoritária está nos bairros da classe média e da classe média alta. A violência e as mortes estão concentradas na juventude pobre. É nos bairros mais carentes que se dão as ações mais duras da polícia. Os mais ricos que adquiriram o hábito de consumir drogas, estão isentos da selvageria que se instalou no mundo dos pobres. Drogam-se com poucas consequências policiais.
Não quero me aprofundar agora nesse tema da violência, até porque ela é um dado estrutural da nossa sociedade, que merece ser analisada com profundidade. Quero apenas registrar que a ausência de políticas púbicas na produção das maiores cidades brasileiras foi e é lamentável, e que, tratar a violência com respostas armadas e ocupações permanentes, é mais um traço perverso desse mundo brasileiro, no qual estamos mergulhados. Tem profunda relação com o fenômeno religioso também.

Valorizamos sua opinião! Queremos tornar nosso portal ainda melhor para você. Por favor, dedique alguns minutos para responder à nossa pesquisa de satisfação. Sua opinião é importante. Clique aqui

João Gualberto

João Gualberto é professor Emérito da Universidade Federal do Espírito Santo e Pós-Doutor em Gestão e Cultura (UFBA). Também foi Secretário de Cultura do Espírito Santo de 2014 a 2018. João Gualberto nasceu em Cachoeiro do Itapemirim e mora em Vitória, no Espírito Santo. Como pesquisador e professor, o trabalho diário de João é a análise do “Caso Brasileiro”. Principalmente do ponto de vista da cultura, da antropologia e da política.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.