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Coluna João Gualberto

Biografia do abismo

As identidades que se associaram ao lulismo e ao bolsonarismo são gigantes, dizem autores de “Biografia do Abismo”

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As identidades que se associaram ao lulismo e ao bolsonarismo são gigantes, dizem os autores de Biografia do Abismo. Foto: raldo Peres/Reprodução

Identidades que se associaram ao lula e ao bolsonaro são gigantes, dizem autores de Biografia do Abismo. Foto: Eraldo Peres/Reprodução

O nome do artigo de hoje, tomo emprestado do excelente livro escrito por Felipe Nunes e Thomas Trauman e publicado recentemente. O subtítulo da obra é:  como a polarização divide famílias, desafia empresas e compromete o futuro do Brasil. Os autores já colocam desde o título, a sua visão da profundidade e perversidade, acerca do que se passa politicamente hoje, no Brasil e no mundo.

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Em “Biografia do Abismo”, eles tratam do que chamam de calcificação da polarização nos nossos tempos. Polarização já é, em si mesmo, um conceito que mostra o nível de inflexibilidade que o fenômeno político alcançou. O pensamento ideológico é agora pronto e acabado desde o início e enquadra tudo, da política aos afetos. Esta abordagem ganhou muitos comentários nos últimos meses. Eu mesmo tratei disso anteriormente.

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Boa parte das reflexões realizadas ao longo da obra surgem da utilização intensa de pesquisas de comportamento e opinião feitas pela Quaest, da qual Felipe Nunes é sócio-fundador. Eles trabalham com uma bateria enorme de dados quantitativos, e também de dezenas de rodadas dos chamados grupo de discussão. Dados, portanto, chamados de qualitativos. Neles, os eleitores são convidados a discutir temas propostos, no caso específico, os processos eleitorais.  O livro não se organiza a partir de achismos, mas sim de uma base científica de dados. Há os que não acreditam. A esses, sugiro não prosseguirem na leitura do artigo.

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Embora as duas lideranças carismáticas de Lula e Bolsonaro reforcem muito a polarização, não existe a chance de acreditar que a ausência de um dos dois líderes nas próximas eleições nos devolva uma situação menos tensa. No caso das eleições municipais, eles funcionarão como cabos eleitorais. Será ingênuo não pensar assim. Existe o que os autores do livro ao qual estou me referindo chamam de um estado de enrijecimento das paixões, o que obrigatoriamente transformará o pleito em um lugar de disputas ideológicas. Mas isso não implica que os resultados eleitorais sejam predeterminados pelas opções esquerda e direita. É mais sofisticado do que isso.

As identidades que se associaram ao lulismo e ao bolsonarismo são gigantes, dizem os autores de Biografia do Abismo. Permitem alto potencial de votos para os que se alinharem aos seus perfis. Por conta disso, os dois movimentos são tão grandes que os resultados tendem a ser definidos por grupos pequenos, sobretudo nas cidades que tenham eleições em dois turnos.

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Esses grupos pequenos podem se abster de participar da polarização, ou podem optar por um dos lados. A balança eleitoral seria assim definida por pequena margem de votos, como foi em 2022. Esse país enrijecido só nos dá uma pista: as eleições tendem a ser cada vez mais apertadas, e os resultados muito imprevisíveis. Quem ganhar, ganhará por pouco e por motivos que podem parecer pouco importantes, como o desempenho em um debate ou um apoio visto pelos eleitores como equivocado e de última hora.

Nas últimas eleições estaduais no Espírito Santo vimos isso. O sistema político acreditava na vitória de Renato Casagrande no primeiro turno. Não houve. Depois, no segundo turno, um improvável Carlos Manato teve 47% dos votos válidos. Muito mais pela força do número 22 da chapa de Bolsonaro, do que pela trajetória política do candidato. Mesmo o senador Magno Malta teve menos de 4% de diferença da segunda colocada, Rose de Freitas. Foram vitórias com pequenas margens no Espírito Santo, mostrando que a tese dos autores não é desprezível.  Deve ser considerada. Para mim, o fenômeno vai ser repetir esse ano.


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João Gualberto

João Gualberto é professor Emérito da Universidade Federal do Espírito Santo e Pós-Doutor em Gestão e Cultura (UFBA). Também foi Secretário de Cultura do Espírito Santo de 2014 a 2018. João Gualberto nasceu em Cachoeiro do Itapemirim e mora em Vitória, no Espírito Santo. Como pesquisador e professor, o trabalho diário de João é a análise do “Caso Brasileiro”. Principalmente do ponto de vista da cultura, da antropologia e da política.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.