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Coluna João Gualberto

As duas asas do avião

Os arranjos eleitorais de sucesso não devem estar sustentados por uma só asa do avião, por um só bloco de ideias e interesses

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Existe uma máxima da política brasileira, que é muito repetida pelos políticos capixabas: nas eleições, para que um avião – um arranjo partidário – voe, é preciso que tenha duas asas. Uma delas fica à esquerda e outra à direita, obviamente. Isso quer dizer que os arranjos eleitorais de sucesso não devem estar sustentados por uma só asa do avião, por um só bloco de ideias e interesses.

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O governador Renato Casagrande, como político habilidoso que é, tem voado muito bem com seus aviões de duas asas. Basta lembrar como se comportou nas eleições de 2022. Iniciou o processo ao lado da candidatura de Lula, até porque, nacionalmente, o seu partido, o PSB, foi quem deu o vice-presidente Geraldo Alckmin. Ao lado, sim, mas de forma discreta. Já no segundo turno alguns de seus aliados como Arnaldinho Borgo, Euclério Sampaio e Enivaldo dos Anjos pediam votos para Bolsonaro e para Renato. Pronto. Aí estavam as duas asas de 2022: Lula e Bolsonaro. Conseguiu obter votos dos dois espectros eleitorais e saiu vitorioso de um embate difícil. Esquivou-se da enorme polarização do ano passado.

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Nas próximas eleições municipais de Vitória, parece que as duas asas do avião estão representadas pelas candidaturas de João Carlos Coser do PT e de Luiz Paulo Vellozo, do PSDB. Nenhuma delas representa posições extremas em seus partidos ou leque de alianças. Coser é um aliado histórico de Casagrande, tendo sido, inclusive, apoiado por ele no segundo turno das eleições de 2020. Seu atual mandato de deputado estadual é alinhado ao governo.

Quanto a Luiz Paulo, ele ocupa um cargo importante na Secretaria de Desenvolvimento do governo, que é comandada pelo vice-governador Ricardo Ferraço. Não apenas. O partido de Ricardo, atualmente MDB, deverá fazer parte da coalizão que dará sustentação a Luiz Paulo. Além disso, o terceiro partido dessa mesma coalizão deve ser o União Brasil, cujo presidente é o secretário estadual de meio ambiente, Felipe Rigoni.  Ou seja, não há qualquer dúvida de que Luiz Paulo vem com a engenharia política do governo.

Esses arranjos não significam que Renato Casagrande vá entrar de cabeça no processo. Acredito que não. Ele vai taxiar na pista do primeiro turno e seu avião particular só deve voar mesmo no segundo. Aí, as asas sustentarão uma aliança contra a reeleição do atual prefeito Pazolini. Derrotar o prefeito parece ser o objetivo estratégico do governador: apoia os dois aliados e ajuda a uni-los num provável segundo turno.

Luiz Paulo e João Coser foram prefeitos de Vitória, cada um por dois mandatos, entre 1997 e 2012. Fizeram administrações muito bem avaliadas e não tem histórico de desavenças pessoais. Embora os partidos tivessem rivalidades históricas, naquele período – todos se lembram quem eram os principais animadores das disputas ideológicas do período – sempre mantiveram relações amistosas. São pessoas muito cordiais. Não apenas os dois líderes, mas também seus grupos políticos. No fundo, me parecem mais duas candidaturas de centro, ficando os extremos por conta do PSOL de Camila Valadão e do PL do Capitão Assunção. Mas, dessas duas candidaturas falarei em outro artigo.

Nesse espectro político, a candidatura de centro de Pazolini terá dificuldades de ser mantida como tal. Parece ser mais uma candidatura mais à direita. Mas isso é uma tarefa das campanhas, que serão bem animadas, pois os candidatos são todos grandes craques da política local. Não será xadrez para principiantes.


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João Gualberto

João Gualberto é professor Emérito da Universidade Federal do Espírito Santo e Pós-Doutor em Gestão e Cultura (UFBA). Também foi Secretário de Cultura do Espírito Santo de 2014 a 2018. João Gualberto nasceu em Cachoeiro do Itapemirim e mora em Vitória, no Espírito Santo. Como pesquisador e professor, o trabalho diário de João é a análise do “Caso Brasileiro”. Principalmente do ponto de vista da cultura, da antropologia e da política.

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