Coluna Inovação
Vamos concentrar na pauta do soft power
O Brasil tem o potencial de se tornar um líder global em soft power, promovendo a cultura, a sustentabilidade e a segurança alimentar como seus principais ativos de influência
O professor de Harvard Joseph Nye propôs o termo soft power (ou poder brando), em um livro de 2004, para designar a forma como uma nação impõe sua influência no resto do mundo por meios diferentes da coerção, do dinheiro e da supremacia militar — o chamado hard power. Poder é a capacidade de influenciar os outros para que façam o que você quer. Há três maneiras de fazer isso: ameaçá-los com porretes, recompensá-los com cenouras ou atraí-los para que queiram o mesmo que você. Essa terceira opção é o soft power e necessita que o estado influenciado tenha alguma admiração pelo estado influenciador.
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De acordo com Nye, há três fontes básicas de soft power: cultura, valores políticos e política externa, vista como legítima e com autoridade moral. Segundo Nye, a cultura dos Estados Unidos permite que sua capacidade de influência seja maior que a força militar, diferente do que ocorreu com os impérios Romano e Soviético. É fácil perceber a influência de Hollywood, Disney, Netflix, Harvard, Stanford, Google, Apple, Microsoft, Amazon, Starlink, Nvidia e dezenas de outras siglas. Milhares de estudantes estrangeiros vão estudar nos Estados Unidos e disseminam os valores da cultura americana nos seus países.
O Brasil não terá durante muitos anos capacidade de influência econômica no mundo e muito menos poder militar. Poderia ter alguma influência pela cultura, onde despontam a música, o carnaval e alguma coisa de televisão disseminada em muitos países. Porém os grandes ativos de soft power seriam a transição energética, a sustentabilidade ambiental e a segurança alimentar.
A nossa matriz energética atingiu 49,1% de energia renovável em 2023, enquanto o mundo usa apenas 14%. Estamos em todas: eólica, solar, biomassa, hidrelétrica e já entrando em hidrogênio verde. E temos gás e petróleo para bancar a transição. Temos 12% das florestas do mundo, e a Amazônia é um ativo inestimável da bioeconomia, por concentrar a maior diversidade do planeta . E produzimos alimentos para abastecer o mundo.
Existe um entendimento que o Brasil poderia ser um grande líder de soft power nesses temas, que crescem na opinião pública mundial, se despertar o respeito e a admiração de outros países. No mundo polarizado atual estamos bem para nearshoring, friendshoring, powershoring e até para um peaceshoring, considerando que não guerreamos com ninguém, exceto com nós mesmos.
Seria um trunfo no apoio às demandas de entrada na OCDE, no Conselho de Segurança da ONU, para acordos de comércio, que estão cada vez mais exigentes no tema sustentabilidade ambiental e principalmente para gerar riqueza, trabalho e renda no país.
Só não podemos ficar do lado errado nas grandes questões do mundo. Já passamos por momentos de confronto ideológico com China, já se pensou em cutucar os árabes apoiando mudança de capital para Jerusalém, já se pensou em invadir a Venezuela em governo de direita, houve até baixaria com a mulher do presidente da França e viramos pária internacional. Agora vem a esquerda e apoia ditaduras, tem delírios nostálgicos com a Rússia mafiosa, um antiamericanismo paranoico e ideias delirantes de mediar conflitos fora do nosso alcance. Assim não há soft power que aguente.
Sabemos, desde sempre, que países não têm amigos, têm interesses. Dá para conversar com todo mundo. Os três temas do soft power estão aí para servir de pauta, porém com firmeza, inteligência, menos barulho e mais diplomacia.
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