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Coluna André Andrès

Galiotto: do vinho de mesa ao prêmio contra o preconceito

Famosa por seus vinhos populares, vinícola gaúcha investe na melhoria da produção e ganha prêmios em disputas com rótulos bem mais caros

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Há alguns anos, numa cena exagerada, uma série de TV mostrou a sua versão de uma degustação de vinhos às cegas. O personagem de Cauã Raymond colocou uma venda sobre os olhos dos degustadores e, principalmente, das degustadoras. A intenção do autor era erotizar a situação de alguma forma. Talvez não lhe tenha ocorrido algo: com os olhos vendados, as pessoas não saberiam pegar as taças e nem devolvê-las para a mesa com segurança, mas isso é uma outra história… A cena foi marcante e, por conta dela, muitos imaginam ser esta a forma correta de fazer uma degustação às cegas. Nada disso. Esse tipo de prova é até muito simples: as taças são servidas sem ninguém saber qual vinho foi aberto. Ninguém vê o rótulo. Por isso é ‘às cegas’ e, por isso, é tão reveladora. Sem o peso representado pelos rótulos, para o bem ou para o mal, ocorrem surpresas: vinhos considerados espetaculares só pelo fato de serem famosos (e caros) acabam, muitas vezes, sendo superados por outros bem mais baratos e menos (re)conhecidos.

As surpresas, às vezes, provocam desconfiança. E essa desconfiança é, por vezes, fruto da ignorância. Há tempos as vinícolas brasileiras vêm investindo e melhorando sua produção. Mesmo assim, ainda é bastante comum algum olhar estranho quando vinhos nacionais superam rótulos internacionais em avaliações, feiras e outros tipos de competição. No caso da feira de vinhos de Vitória, isso já havia acontecido, anos atrás, com a Aurora, cooperativa inicialmente famosa por produzir rótulos como o Sangue de Boi, mas hoje também conhecida por nos entregar o Millésime, um dos melhores tintos do país, e alguns dos grandes espumantes e brancos feitos em Pinto Bandeira. Neste ano, os jurados da Expovinhos consagraram outra vinícola gaúcha, até pouco tempo sinônimo apenas e unicamente de rótulos populares, a Galiotto. Um branco e um tinto da produtora de Flores da Cunha foram brindados com medalhas do Top Five, a premiação do evento de Vitória. Com um detalhe conhecido por poucos: alcançou essa façanha com dois grupos distintos de jurados, porque aqueles escalados para provar os brancos eram diferentes dos escolhidos para provar os tintos. E tudo às cegas, é bom lembrar…

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A vitória pode ter surpreendido muitas pessoas no mundo do vinho, mas não os responsáveis pela vinícola. “Buscamos sempre a melhor qualidade possível para cada vinho, dentro de suas linhas”, diz André Galiotto, diretor comercial e descendente de Angelo Galiotto, pilar fundamental da empresa, surgida há mais de cinco décadas. Ao longo dos seus 57 anos, a vinícola cresceu fortemente no braço popular do mercado, chegando hoje a entregar por ano cerca de oito milhões de litros de vinho. Poderia ter se acomodado com esse sucesso, mas há pouco mais de 20 anos, surgiu a decisão de iniciar a produção de vinhos finos. Contou com o apoio do enólogo Samuel Cervi e investimentos em toda a linha de produção. E daí começaram a surgir linhas como a de vinhos varietais (como o Chardonnay, premiado na categoria Brancos do Novo Mundo, da Expovinhos), blend, como o Angelo (top five na categoria Tinto do Novo Mundo) e, mais recentemente, de espumantes. Sinais desse avanço foram surgindo ao longo dessa nova fase, como o lançamento de garrafas fechadas com screw cap (as tampinhas de rosca) a partir de 2014. Hoje, os vinhos finos representam 5% do total produzido pela empresa. Pode parecer pouco, mas, como já foi esclarecido nesse espaço, todas as grandes vinícolas se apoiam em vinhos populares para conseguir manter uma produção mais refinada.

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André Galiotto resume de uma forma muito direta a importância das premiações, ocorridas não só na Expovinhos, mas também na Grande Provas de Vinhos do Brasil e na Brasil Wine Challenge, só para ficar em dois exemplos recentes: “Os prêmios vêm para ajudar. E de tempos para cá, onde a gente entra, a gente ganha.” A frase, simples, objetiva, reflete muito do trabalho, duro e intenso, da família Galiotto. E é também a melhor resposta para quem se espanta com os resultados alcançados pela vinícola gaúcha. Porque a surpresa é filha não só do desconhecimento sobre a evolução de nossas vinícolas, mas também do preconceito contra o vinho nacional. E uma das maneiras mais eficazes de derrotar o preconceito é com a simplicidade de quem enxerga o futuro e sabe qual caminho trilhar. Mesmo quando esse caminho é aberto por uma degustação às cegas…”

Confira os dois vinhos da Galiotto premiados no Top Five

 


Casa Galiotto Chardonnay
– Um branco fresco, leve, com muitos aromas de frutas e alguns toques amanteigados. Tem aromas marcantes, também de frutas frescas. É, enfim, um vinho gostoso, de baixo volume alcoólico (12,5%) e muito fácil de beber. Bom para o nosso clima quente.
Preço – R$ 40

Angelo – O vinho é uma bela homenagem ao patriarca da família. A combinação de Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat passa 12 meses em barricas de carvalho americano e francês e mais 12 meses em garrafa antes de ir ao mercado. Essa guarda deixa o vinho com boa vida pela frente. Na taça, apresenta notas de frutas maduras e a madeira empresta toques de coco. Tinto bem equilibrado.
Preço – nos sites, varia entre R$ 80 e R$ 140

 


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André Andrès

Há mais de 10 anos escrevo sobre vinhos. Não sou crítico. Sou um repórter. Além do conteúdo da garrafa, me interessa sua história e as histórias existentes em torno dela. Tento trazer para quem me dá o prazer da sua leitura o prazer encontrado nas taças de brancos, tintos e rosés. E acredite: esse prazer é tão inesgotável quanto o tema tratado neste espaço.

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