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Bem-estar

Entenda a crise de ansiedade coletiva sofrida por estudantes

A crise de ansiedade desencadeou uma reação em cadeia que percorreu várias turmas da escola

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Escola de Referência em Ensino Médio (Erem) Ageu Magalhães. Foto: Pedro Menezes/Divulgação

Escola de Referência em Ensino Médio (Erem) Ageu Magalhães. Foto: Pedro Menezes/Divulgação

Uma crise de ansiedade atingiu 26 alunos de uma escola estadual no Recife na última sexta-feira (8). Oito veículos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) precisaram se deslocar até o local para atendimento. Foram relatados sintomas como falta de ar, tremor e crise de choro.

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Antes de mais nada, o ideal é entender o que o transtorno de ansiedade. A ansiedade e os transtornos de ansiedade são marcados pela preocupação excessiva ou constante de que algo negativo vai acontecer. Em especial durante as crises de ansiedade, as pessoas não conseguem se ater ao presente e sentem uma grande tensão, às vezes sem um motivo aparente. Esse problema pode manifestar sintomas físicos também, como sudorese e arritmia cardíaca.

O psicólogo Alexandre Brito explica que a intensidade dos sintomas de ansiedade e a duração dos mesmos marcam essa distinção. “Qualquer pessoa fica ansiosa por causa de uma entrevista de emprego, antes de fazer uma prova ou quando vai conhecer alguém. Mas, normalmente, esse sentimento passa”.

Já no transtorno de ansiedade, quase tudo vira motivo de preocupação exagerada e contínua. “O paciente não é capaz de relaxar”, complementa a especialista. Crises comuns há mais de seis meses são um sinal claro desse quadro. Ficar tenso sem razão aparente é outro.

Os alunos estavam em semana de provas. Depois do ocorrido, as duas últimas avaliações foram remarcadas. A crise de ansiedade desencadeou uma reação em cadeia que percorreu várias turmas da escola. Em poucos minutos, alunos de outras salas de aula começaram a gritar, e seus gritos podiam ser ouvidos pelos corredores. Em vídeo, que circula na internet, aparecem ambulâncias e alunos, muitos deitados no chão, sendo amparados por profissionais da saúde. Mas o que é uma crise coletiva de ansiedade e como ela pode ser identificada?

“É possível que haja manifestações psicológicas em comum entre pessoas de um mesmo grupo. Por estarem em um mesmo ambiente, por se identificarem uns com os outros, por terem sonhos em comum, os mesmo desafios, é possível sim que eles tenham um mesmo sintoma, como a ansiedade, em comum. Pode começar com um aluno e os outros acabarem, por identificação, desencadeando a ansiedade. Lembrando que cada um vai ter a sua própria manifestação, que pode surgir de diversas formas”, explica o psicólogo.

Para Alexandre, outro ponto relevante sobre esse caso é que pandemias trazem, historicamente, movimentos de grandes estresses. Afinal, a pandemia do coronavírus ainda não acabou, são dois anos vivenciando tantas incertezas. Hoje, as pessoas colhem reflexos. Esses podem ser alguns danos que afetaram os alunos de escolas públicas por causa da suspensão das aulas presenciais para evitar o contágio da covid-19.

“Esses alunos passaram por afastamento das aulas, ensino remoto, dificuldade de compressão. Quando você traz a pessoa de volta, gera um nível de estresse absurdo. Fora as cobranças, o aumento do desemprego e a pressão por um futuro. E isso gera, sim, uma chance maior de ser um gatilho para gerar adoecimentos vinculados à ansiedade. A escola deve ser repensada, se dedicar também à saúde mental e aos aspectos psicossociais dos alunos também”, garante o psicólogo.

O episódio de crise coletiva como aconteceu na escola não é algo comum. Segundo Alexandre, neste contexto, os adolescentes, particularmente, estão muito suscetíveis ao comportamento dos amigos. A escola é uma comunidade mais fechada, então, quando uma pessoa ali tem um problema, ele afeta os demais de forma mais intensa. Mas vale pensar também que os adolescentes que vivenciaram essa crise de ansiedade não estão bem, estão de alguma forma frágeis em termos de saúde mental.

Ainda tem outras questões que poderiam levar à crise coletiva, como o contexto institucional na escola ou se aconteceu algum fenômeno mais estressante no ambiente. Porém, seria preciso uma investigação no local para entender se há de fato fatores assim.