Personagens
Casal com deficiência celebra chegada de gêmeos e supera desafios no ES
Paulla tem paralisia cerebral e Samuel, autismo e deficiência intelectual. Juntos, mostram que a paternidade é um sonho possível para pessoas com deficiência
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Paulla e Samuel com os filhos, Isaac e Noah, que vieram ao mundo há dois meses e representam a realização de um grande sonho do casal. Foto: Arquivo Pessoal
Isaac e Noah vieram ao mundo há dois meses e são a realização de um sonho para Paulla Nascimento Martins, de 24 anos, e Samuel Martins do Nascimento, de 29. O casal, que oficializou a união em novembro de 2023, agora vive uma nova fase: a vivência como pais de gêmeos. A jornada até aqui foi repleta de desafios, mas, segundo Paulla, cada obstáculo foi superado com amor, fé e apoio.
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Paulla tem paralisia cerebral, que afeta sua mobilidade, e Samuel foi diagnosticado com autismo e deficiência intelectual. Mesmo assim, a maternidade e a paternidade nunca foram um sonho distante. “Eu achava que minha deficiência poderia me impedir de gestar uma criança, mas fiz todos os exames e acompanhamentos necessários. Eu coloquei em prática todas as orientações médicas, tanto que quando minha barriga cresceu, usei cadeira de rodas para facilitar a locomoção”, relembra Paulla.
Gravidez
A confirmação da gravidez foi um momento de muita emoção. “Minha menstruação nunca atrasava. No primeiro dia de atraso, já avisei o Samuel. Esperamos uma semana e fizemos o teste de farmácia e depois o de laboratório. Minha irmã gêmea desconfiou que eram dois bebês por causa do resultado do Beta HCG e o Samuel, desde o início, conversava com minha barriga como se soubesse que eram gêmeos”, conta.
“Foi uma alegria muito grande. Eu tenho paralisia cerebral, que afeta minha mobilidade, mas sempre fui muito ativa. Nunca me deixei vencer pela deficiência e faço de tudo dentro das minhas possibilidades”, acrescenta Paulla.
A gestação não foi fácil. Paulla enfrentou complicações, como pré-eclâmpsia e inchaço severo, que a levaram a uma internação e um parto de emergência. Os meninos nasceram prematuros, com 33 semanas e 5 dias, e precisaram passar cerca de um mês na UTI neonatal.
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Momento do nascimento dos gêmeos, que chegaram prematuros com 33 semanas e 5 dias. Foto: Karol Felicio
A rotina com os gêmeos
Morando sozinhos na Serra, os dois dividem as responsabilidades com os filhos. “Dou banho, troco fralda, levo ao médico, dou mamadeira. Meu marido está exercendo o papel de pai com brilhantismo”, afirma Paulla. Segundo ela, o companheirismo entre os dois tem sido essencial para essa nova rotina. “Somos muito parceiros enquanto casal. Eu não poderia ter escolhido um homem melhor para ser pai dos meus filhos. A gente se completa”.
A mãe comentou que seus filhos estão saudáveis, ganhando peso e se comportando bem, embora haja semanas em que um fique mais quieto e o outro mais choroso. Ela mencionou que a família está se habituando à nova rotina, já que os bebês ainda trocam o dia pela noite.
Paulla também ressaltou que, apesar dos desafios, sempre contou com uma rede de apoio. A irmã gêmea viajou do Rio de Janeiro para o Espírito Santo e ficou com ela durante um mês. Amigos e familiares também têm ajudado bastante nessa nova fase. Ela destacou que, na vida, independentemente de ter deficiência ou não, as pessoas precisam umas das outras, pois ninguém vive sozinho.
Retorno às atividades
Paulla, que é Autodefensora da Apae Brasil e representa as pessoas com deficiência do país nas APAEs, explicou que comanda o programa “Autodefensoria em Ação” no YouTube, ao lado do autodefensor nacional, com gravações realizadas ao final de cada mês. Ela mencionou que precisou se afastar temporariamente devido à gravidez, mas planeja retornar em março. Mesmo durante a gestação, continuou ativa, participando de eventos e conferências sobre pessoas com deficiência.
Planos para o futuro
O futuro dos filhos é algo que Paulla e Samuel já projetam com carinho. “Quero criar meus filhos para que batam asas e voem. Quero que sejam homens íntegros, felizes e saibam que podem contar com os pais”, diz. “Quero estar presente em todos os momentos da vida deles, apoiá-los e ensinar”.
Um amor que supera desafios
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Casamento da Paula e Samuel. Foto: Tatiana Pezzin
A história do casal começou em 2014, quando se conheceram em um congresso sobre pessoas com deficiência. Um ano depois, o reencontro aconteceu durante uma gincana em Marataízes e a amizade se transformou em amor. Foram oito anos juntos até oficializarem a união em um casamento comunitário na Serra.
Samuel estuda Ciências Sociais na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e trabalha na BrasilCenter. Paulla sonha em cursar Direito e aguarda a nota do Enem para ingressar na universidade. A chegada dos filhos reforça o compromisso do casal em quebrar barreiras e mostrar que a deficiência não impede a conquista de sonhos.
“Pessoas com deficiência têm direito de viver uma vida plena, casar e ter filhos. Não queremos ser coadjuvantes da nossa história, mas sim protagonistas”, finaliza Paulla.
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