Olhar 360º
Grande Vitória já tem mais de 1,1 mil pessoas em situação de rua
Segundo levantamento do Portal ES360, Serra é a cidade com a maior população de rua na região metropolitana
Você se recorda a última vez que saiu de casa para ir ao supermercado ou mesmo ao trabalho sem cruzar com um morador de rua em seu trajeto? Com que frequência você se depara com cobertores, colchões ou mesmo papelões esticados nas praças e calçadas do seu bairro? O número, com certeza, é maior do que todos nós gostaríamos e as prefeituras da Grande Vitória confirmam esse cenário. Segundo levantamento do Portal ES360, existem cerca de 1.112 pessoas em situação de rua na região metropolitana.
Serra lidera esse ranking. De acordo com o município, apenas nos cinco primeiros meses de 2021 o serviço de abordagem social identificou e cadastrou em seus programas de acolhimento 417 pessoas vivendo nas ruas. O número representa 62,8% do total registrado pela cidade ao longo de todo o ano passado.
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Moradia improvisada nas ruas na Praia da Costa, em Vila Velha. Foto: Vinicius Arruda
Já nos demais municípios da região metropolitana, o pior cenário é na capital. Segundo a prefeitura, existem em Vitória cerca de 300 pessoas em situação de rua. Na sequência estão Vila Velha, com aproximadamente 200 pessoas vivendo fora de suas casas; e Cariacica, com um total de 195 pessoas na mesma situação.
Moradores de rua no ES já são mais de 2,5 mil
Não é apenas na região metropolitana que o cenário chama a atenção. Segundo a secretária de Estado de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social, Cyntia Figueira Grillo, em fevereiro deste ano o Espírito Santo registrava 2.683 pessoas em situação de rua. No mesmo período do ano passado eram 2.400 pessoas, ou seja, houve uma alta de 11,79% em um ano.
A realidade, no entanto, pode ser ainda pior, afirma a secretária. “Os dados que temos hoje são informações extraídas do CadÚnico, ferramenta que os governos municipais, estaduais e federal utilizam para desenvolver os programas sociais que beneficiam as famílias de baixa renda. Como nem todas as pessoas em situação de rua estão cadastradas nesse sistema, sabemos que o número real pode ser ainda maior”.
Quem são e o que levam as pessoas a viver nas ruas?

Reciclagem de lixo é uma das principais atividades das pessoas que vivem nas ruas. Foto: Vinicius Arruda
Cada morador de rua tem a sua própria história e motivos que os levaram até essa situação. Porém, segundo a secretária de Assistência Social de Vitória, Cintya Silva Schulz, algumas características costumam se repetir. “Na década de 90, na capital, tínhamos casos de famílias inteiras morando nas ruas. Hoje essa população é composta principalmente por adultos que, por conflitos familiares, consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas, acabaram aderindo à vida nas ruas”.
Mas esse perfil está mais uma vez mudando, explica a subsecretária de Assistência Social de Vila Velha, Márcia de Oliveira Barcellos. E de acordo com ela, a pandemia do novo coronavírus é a principal responsável por essa mudança. “Percebemos o crescimento de um público que não era reconhecido nas ruas. São aquelas pessoas que viviam em situação de vulnerabilidade e tinham condições de sobrevivência. Mas com a pandemia, veio o desemprego: muitas delas deixaram de trabalhar e passaram a buscar nas ruas uma retaguarda”.
Quanto custa aos cofres públicos o serviço de assistência social?
A execução direta de serviços de assistência são de competência dos municípios, cabendo ao governo estadual o apoio financeiro para custear o trabalho realizado pelas prefeituras. Segundo a secretaria de Estado de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social, Cyntia Figueira Grillo, serão investidos, ao longo de 2021, cerca de R$ 4,6 milhões.
Quais as ações realizadas pelas prefeituras?

Equipe de Abordagem Social escuta pessoas em situação de rua na praça de Jucutuquara, em Vitória, e oferece encaminhamentos para rede socioassistencial. Foto: Leonardo Silveira
O principal serviço oferecido pelos municípios é o de abordagem, em que equipes compostas por assistentes sociais e psicólogos identificam os pontos onde esse público vive. Por meio de muito diálogo, as pessoas são convidadas a participar de outros programas.
Em Vitória, Serra e Vila Velha, por exemplo, os moradores de rua podem ser encaminhados para o Centro Pop, onde são oferecidos serviços de alimentação, banho, lavagem de roupas e atendimento psicossocial, entre outros. Além disso, existem também os abrigos. O abrigo de Cariacica, por exemplo, funciona como uma moradia temporária, onde a pessoa permanece por tempo limitado.
Falta integração para coordenar ações metropolitanas
Se existem tantos serviços disponíveis, por que ainda nos deparamos com tantas pessoas em situação de rua? Para responder a essa pergunta é preciso compreender alguns fatores determinantes no processo de atendimento social. O primeiro deles está ligado ao fato de que as pessoas só podem ser ajudadas se for do desejo delas. O segundo ponto tem a ver com uma característica dessa população: ela é flutuante, numa hora está em Vitória, outra está em Vila Velha. E atrelado a isso está um problema na gestão pública. a falta de uma coordenação de ações metropolitanas.
De acordo com a secretaria de Estado de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social, Cyntia Figueira Grillo, um grupo composto pelos gestores municipais e representantes do Ministério Público já foi criado para debater o assunto. “Essa é uma discussão muito importante e agora, após uma mudança recente das gestões municipais, estamos retomando esse diálogo. Ainda não temos nenhum encaminhamento completo sobre serviços metropolitanos, mas estamos trabalhando para consolidar algo em nível metropolitano no menor espaço de tempo possível”.
