IBEF Academy
Do que é feito o empreendedor brasileiro?
Alguns podem dizer que é de nervos de aço, mas, particularmente, eu diria que é de um coração esperançoso e um espírito otimista. No artigo anterior, publicado aqui na coluna, escrevi sobre como o compliance tributário pode separar o empreendedor amador do empresário prudente, porém nada mais justo do que trazer à reflexão o que torna o empreendedor brasileiro amador.
Ninguém nasce empreendedor. Essa é uma virtude construída no decorrer da vida, na maioria das vezes incentivada pelos próprios pais. Para se ter ideia, o Brasil apresenta uma Taxa de empreendedores iniciais (TEA) de 23,3%, quase 7% maior que a dos Estados Unidos, que é de 16,2%, de acordo com o Sebrae.
> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!
O grande problema é que essa taxa representa apenas os empreendedores iniciais, onde muitas vezes a base educacional não é sólida, por alguns fatores que narrarei abaixo e, por isso, os negócios não vingam.
Para começar, nem no ensino fundamental, nem no ensino médio, o ensino de finanças e economia é realizado. Muitas crianças e adolescentes recebem mesada, mas não fazem a menor ideia de quantos por cento esse valor representa no orçamento familiar ou como e por que a coxinha da cantina da escola pode passar a custar mais caro se o país passar por uma inflação.
Outro ponto interessante é que não existe educação fiscal na adolescência. Os jovens, apesar de terem autorização para votar desde os 16 anos, vão totalmente despreparados às urnas, pois não sabem relacionar o fato de os políticos eleitos serem responsáveis por gerir todo o tributo arrecadado com o fato de que isso pode impactar a vida, a saúde, a educação e o transporte.
De acordo com o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), 67% dos alunos de 15 anos não sabem distinguir fatos de opiniões. Se você não consegue entender como funciona a economia doméstica ou como gestores corruptos, com más intenções e sem formação, podem impactar a vida, como terá capacidade de buscar números (fatos) e saber opinar na gestão de uma empresa, que é um organismo vivo e que precisa de constantes ajustes?
Aliado a esses dois pontos, acredito também que a burocracia e a carga tributária contribuem para que o empreendedor não saia da informalidade, terceirize a responsabilidade de manter o compliance, culpando o governo e a política, e, consequentemente, não cresça.
Tudo bem que essa culpa pode ser parcialmente distribuída com a geração empreendedora atual e a burocracia. Exemplo da segunda parte é que hoje, no Brasil, mesmo tendo a maior parte dos dados financeiros, a administração tributária exige do empresário a entrega da declaração e o cálculo do tributo devido pela sua atividade. E pior, se ele declarar errado, ainda estará sujeito a multa, pagamento da diferença, correção monetária e juros.
Feitas essas considerações, vem a grande questão: como podemos mudar esse cenário?
Acredito que sobre o passado não podemos culpar nossos pais, mas sim extrair uma grande lição, que é a importância da construção do conhecimento sobre finanças e economia no núcleo familiar. Ensinar conceitos básicos, como a diferença de poupar e investir, a criação de uma reserva de emergência, o uso consciente de financiamentos e o estímulo da leitura e da responsabilidade individual como forma de construção da consciência autônoma na vida dos nossos jovens, crianças e adolescentes certamente dará um novo norte à futura geração empreendedora brasileira. E quem sabe, entre nossos filhos, veremos nomes como Bill Gates, Mark Zuckerberg e Elon Musk brilhando como empreendedores do Brasil?
Sobre o autor
Efigenia Márlia Brasilino é Advogada Tributarista, Pós Graduada em Direito Público. Membro da Comissão de Direito Tributário da OAB/ES e membro do IBEF Academy também é Cofundadora do Perfil Tributarista Capixaba.
Valorizamos sua opinião! Queremos tornar nosso portal ainda melhor para você. Por favor, dedique alguns minutos para responder à nossa pesquisa de satisfação. Sua opinião é importante. Clique aqui
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.