Os últimos suspiros de Max Filho no ninho do PSDB

Pelo PSDB, Max Filho foi deputado federal e prefeito de Vila Velha

O ex-prefeito de Vila Velha Max Filho está a dar seus últimos suspiros no PSDB. Episódios registrados ao longo da última semana tornaram ainda pior um ambiente que já era muito ruim para Max no partido e ainda menos provável uma permanência que, sob todos os ângulos, já era vista como insustentável.

Na prática, o grupo do ex-prefeito já não tem o controle do próprio partido em seu próprio reduto. Acaba de perder o comando do PSDB em Vila Velha para o grupo do deputado estadual Vandinho Leite, presidente da agremiação no Estado. Muito em breve, Vandinho passará a dar as cartas também na cidade dos Max.

Dentro do PSDB, o ex-prefeito ficou sem espaço para fazer política na cidade. Sem ambiente algum para seguir no ninho tucano, ele não precisa sair da sigla agora, até porque não exerce mandato. Mas, se quiser participar das eleições municipais do ano que vem, não terá escolha senão filiar-se a outra legenda até abril. No novo cenário, é mais provável que o PSDB ingresse na coligação do prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos), adversário de Max.

O que nos leva às conclusões acima é a disputa pelo Diretório Municipal do PSDB, que colocou em choque os grupos de Max e de Vandinho, com prejuízo político para o primeiro. Na última quinta-feira (10), os aliados de Max que até então respondiam pelo órgão de direção provisória em Vila Velha renunciaram ao mandato. Como último ato antes de apresentarem a renúncia, cancelaram a realização da convenção municipal inicialmente convocada para amanhã (14).

Agora, cabe a Vandinho, como presidente estadual, nomear uma nova Comissão Executiva Municipal Provisória, a qual deverá convocar o quanto antes uma nova convenção em Vila Velha. Representantes do grupo de Max afirmam que não vão mais participar, em hipótese alguma, da eleição interna. Alegando que Vandinho teria mudado as regras com o jogo já em andamento, recusam-se a compactuar com o que consideram um “golpe” do presidente estadual.

Acusações à parte, o fato é que, agora sem concorrência interna, o grupo de Vandinho deve vencer a partida por W.O. e desfilar olimpicamente sobre os despojos do grupo de Max na Praça Duque de Caxias, no Centro de Vila Velha.

Com o futuro em aberto, Max diz solidarizar-se com a decisão dos companheiros de renunciarem ao comando da Executiva Provisória em Vila Velha e de se negarem a disputar a convenção municipal do PSDB contra a chapa formada por aliados de Vandinho.

Mas começamos esta análise pelo fim. Para que o leitor compreenda melhor estas conclusões iniciais, precisamos explicar o contexto da disputa interna pelo controle do PSDB de Vila Velha.

O cisma em Vila Velha

Seguindo o calendário oficial baixado pela direção nacional do PSDB, Vandinho determinou, em julho, que todas as Executivas Municipais do partido no Espírito Santo convocassem e realizassem sua convenção para escolha do novo Diretório Municipal, de 1º a 31 de agosto. Em quase todas as cidades, não há o menor indício de disputa. Vale dizer: em quase todas, só uma chapa foi registrada, o partido está “pacificado” e a decisão será tomada por consenso.

Em Vitória, por exemplo, hoje reina a harmonia, e o ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas, presidente provisório desde maio, deve ser efetivado no cargo por aclamação, sem obstáculos nem concorrentes.

Em Vila Velha, deu-se a exceção.

Na cidade governada por Max Filho por três mandatos (de 2001 a 2008 e de 2017 a 2020), Vandinho nomeou uma Executiva Municipal Provisória em 18 de julho, com mandato vigente até 31 de agosto. Essa Executiva era formada por cinco aliados de Max, tendo por presidente Roberto Beling (secretário de Educação em gestões de Max) e por secretário Nerci Pereira, um antigo colaborador do ex-prefeito.

Segundo Nerci, as regras inicialmente informadas pela Executiva Estadual para a realização das convenções municipais previam prazo para recebimento de chapas até 12 dias antes da data da convenção. Sob o comando provisório de aliados de Max, a Executiva do PSDB em Vila Velha publicou o edital de convocação e marcou a convenção para o dia 14 de agosto (amanhã). Portanto, o prazo para a inscrição de chapas iria, a princípio, até o dia 2 de agosto.

Àquela altura, o grupo de Max Filho preparava a inscrição da sua chapa – nesse caso, a chapa da situação do PSDB de Vila Velha, formada pelo próprio Nerci e outros aliados de Max, mas sem incluir o próprio ex-prefeito. Até então, essa era a única chapa de que se tinha conhecimento. Para poder ser registrada, uma chapa precisa ter pelo menos 60 membros. Segundo Nerci, eles contavam com mais de 70: “Nossa chapa estava montada”.

Entretanto, ainda segundo o relato do aliado de Max, na véspera do fim do prazo para registro de chapas (dia 1º), a Executiva Estadual, controlada por Vandinho, baixou nova resolução estadual, dilatando o prazo para até dez dias antes da convenção. Assim, a data limite em Vila Velha passou a ser até o dia 4, com dois dias a mais para a inscrição de chapas. Diante da alteração do prazo, a Executiva Municipal modificou o próprio edital.

No dia 2, conta Nerci, a secretária de Vandinho ligou para ele, informando a existência de uma nova chapa, inscrita dentro do novo prazo. Era a chapa da oposição ao grupo de Max, formada predominantemente por aliados de Vandinho. Oficialmente, a chapa é subscrita pelo advogado Marcos Felix, conhecido por todos como Kiko, aliado e colaborador do deputado estadual. Com cerca de 20 anos de militância no PSDB, ele é ex-secretário-geral da sigla em Vila Velha.

Segundo informações de bastidores, atuando na retaguarda, outro auxiliar de Vandinho teria ascendência na chapa: Richard Graciotti, filho do ex-vereador de Vila Velha Beto Graciotti. Desde fevereiro de 2019, ele é assessor parlamentar em cargo comissionado na Supervisão do Procon da Assembleia Legislativa, por indicação do deputado estadual tucano.

Ouvido pela coluna, uma fonte próxima ao deputado avalia que “chapa do Vandinho” é um rótulo simplista demais. A chapa agregaria, sim, aliados do presidente estadual do PSDB, mas também de outros ex-prefeitos de Vila Velha, do atual prefeito, Arnaldinho Borgo (Podemos), e até alguns ex-aliados do próprio Max, como o vereador Welber da Segurança, eleito em 2020 no palanque do então prefeito. Todos estariam unidos pelo desejo de tirar das mãos de Max Filho o controle do partido em solo vila-velhense.

Debandada e retirada

Fato é que, desse ponto em diante, a disputa se estabeleceu no PSDB local. E a inscrição inesperada da chapa da oposição caiu como uma avalanche sobre a cabeça dos aliados de Max. Pegos de surpresa, eles ficaram sem poder de reação e ainda assistiram a uma debandada. Decidiram, então, retirar-se da disputa interna e renunciar ao comando do órgão diretivo provisório.

Nerci conta que a decisão foi tomada pelo grupo em reunião na última quinta-feira (10). Ele e os demais maxistas estão convencidos de que a Executiva Estadual só estendeu o prazo para registro de chapas de modo que o grupo do Vandinho tivesse tempo para registrar a chapa dele, com seus aliados.

“Eles não fizeram esse negócio de alterar o calendário de graça. Com isso, a maioria dos nossos companheiros retirou as assinaturas da nossa chapa. Não quiseram mais participar. Ninguém mais quis entrar nesse jogo, pois deixaram de acreditar na seriedade desse negócio. A maioria quer deixar o partido, procurar outra legenda. Então nos reunimos na última quinta e concluímos que, se eles [grupo de Vandinho] não fizerem a intervenção agora na Municipal, vão fazer lá na frente. Diante disso, decidimos renunciar à Executiva Provisória, ‘desconvocar’ a convenção do dia 14 e nos retirar do processo.”

Foram dois ofícios protocolados pela Executiva Provisória na última quinta-feira, no cartório eleitoral de Vila Velha: o primeiro, cancelando a convocação da convenção; o segundo, formalizando a renúncia. Agora, cabe à Executiva Estadual (Vandinho) constituir um novo órgão municipal provisório, para realização da convenção que elegerá o próximo Diretório Municipal.

“Mudaram as regras em pleno jogo. Não vamos participar de jeito nenhum. Não queremos nem saber se vai ter convenção, quando vai ter, isso é problema deles. O grupo do Max está fora”, encerra Nerci.

O grupo do próprio Vandinho tem uma leitura bem diferente sobre os motivos da renúncia e da retirada do grupo de Max. Para interlocutores do deputado, os maxistas simplesmente desistiram de disputar a eleição interna porque viram que não iam ganhar e preferiram evitar uma constrangedora derrota nos votos dos convencionais jogando dentro de casa, no reduto dos Max.

Por esse ponto de vista, esse derradeiro ato seria demonstração inconteste da fragilidade política a que chegou Max Filho no momento, ao ponto de não conseguir reunir força e apoio suficientes para manter o controle sobre o próprio partido nos próprios domínios políticos. Seria o fim melancólico da Era Max no PSDB canela verde.

“O grupo do Max está fora”, asseverou Nerci. Mas e quanto ao próprio Max? “Acho difícil a permanência dele. Ficou muito desconfortável”, opina o aliado do ex-prefeito.

Mas o que diz o próprio?

Max Filho: “Solidariedade”

Manifestando total solidariedade aos companheiros, o ex-prefeito prefere não antecipar nem dar como certa neste momento a sua muito provável saída do PSDB.

“Quero manifestar minha total solidariedade ao Nerci, ao Roberto Beling e aos demais companheiros. São companheiros que têm serviços prestados a Vila Velha. Já sofreram uma intervenção em um passado recente e voltam a enfrentar dificuldades semelhante neste momento. Não sou membro do Diretório Municipal nem do Estadual do PSDB. Mas estarei junto com eles”, diz Max.

“Quanto a mudar de partido, vou ouvir os companheiros. Tenho boa identificação com o programa e o estatuto do partido, com o ideário do PSDB por um Estado eficiente, economia de mercado e políticas sociais. Cultivo boa relação com alguns líderes nacionais e estaduais. Mas não vou anunciar nenhuma decisão antes de ouvir os companheiros. Não tenho mandato e posso me desfiliar a qualquer tempo.”

Por outro lado, Max destila críticas a Vandinho e à maneira como o deputado conduz o PSDB estadual, remontando à convenção estadual de 2017, em que a chapa dele e de Luiz Paulo perdeu por margem mínima para a de César Colnago e do próprio Vandinho (eleitos, respectivamente, presidente e secretário-geral estadual). Na época, a cisão deixou uma fratura exposta no PSDB capixaba.

“Tem sido difícil nossa vida no PSDB. Desde que perdi a convenção estadual para César Colnago, tenho enfrentado muitas dificuldades. Veja que o próprio César teve que sair depois, por incompatibilidade com a figura do Vandinho. Não é de hoje que tenho tido essas divergências com o grupo que tem controlado o partido no Estado, apesar do nosso esforço em buscar uma convivência pacífica. Aliás, Vandinho está se perpetuando no cargo de presidente estadual. O estatuto do PSDB prevê alternância nos cargos de direção, mas parece que depois da pandemia zerou tudo”, ironiza.

Em março de 2022, sem espaço algum no PSDB para tentar viabilizar candidatura ao Governo do Estado, César Colnago migrou para o PSD, do qual saiu em julho de 2022. Agora, está no MDB.

A resposta de Vandinho

O deputado respondeu assim à ofensiva do ex-prefeito:

“Sempre tratei o Max com o maior respeito. Quem faz ataques ao partido e mais recentemente a mim é ele. Aliás, é uma prática que ele mantém desde o início da sua vida pública. Não tem nenhuma crítica pública minha a ele em nenhum momento, a não ser agora, quando precisei responder a alguns ataques. Sempre que ele precisou do partido e da estrutura do partido, o partido o ajudou, inclusive em 2022, na nossa chapa de candidatos a deputado federal. Na verdade, não fizemos nenhum federal por conta da baixa votação dele.”

Max Filho: Solidariedade

Max disse prestar “solidariedade” aos seus companheiros. E pode estar aí a resposta para o seu destino em termos partidários.

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