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Coluna Vitor Vogas

O que pensa o primeiro vereador do PT em Vila Velha em uma década

Eleito para o primeiro mandato, Rafael Primo chegará à Câmara para fazer oposição à gestão de Arnaldinho e contraponto ideológico com vereadores do PL

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Rafael Primo (PT)

Rafael Primo (PT)

Na eleição municipal de 2012, o Partido dos Trabalhadores (PT) elegeu um vereador. Zé Nilton, porém, se desfiliou no meio do mandato. Nos dois pleitos municipais seguintes, em 2016 e 2020, o PT passou em branco. O maior partido de esquerda da América não tem representante na Câmara Municipal de Vila Velha há cerca de uma década. Nas eleições de outubro, um homem conseguiu quebrar esse jejum: o administrador Rafael Primo.

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Aos 44 anos, eleito para o primeiro mandato de sua vida, Primo chega à Câmara com a dupla responsabilidade de ser o único vereador do PT na legislatura 2025-2028 e o primeiro desde o governo de Rodney Miranda (2013-2016).

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Podemos acrescentar duas responsabilidades a essa conta, a partir de compromissos assumidos por ele, em conversa com a coluna.

O primeiro é representar a esquerda e firmar um contraponto em plenário no debate ideológico com vereadores de direita ou extrema-direita, sobretudo os do Partido Liberal (PL), que, no atual mandato, falaram o que quiseram ali praticamente sem ouvirem uma voz discordante.

“Coloquei minha candidatura a vereador desde o início, de maneira muito clara e prioritária, como uma candidatura de esquerda. Exercerei meu mandato como alguém com o compromisso de combater ideias fascistas, muitas vezes tratadas como mera bravata, mas são coisas muito graves que são ditas dentro da Câmara”, afirma Primo.

Ele se refere especificamente a dois vereadores da atual legislatura: o não reeleito Romulo Lacerda (Republicanos) e Devacir Rabello (PL), que volta à Câmara após ter perdido o mandato no primeiro semestre deste ano por decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES).

“Devacir é um cara muito estridente, mas o Romulo Lacerda falou coisas muito graves, que muitas vezes não são baseadas na verdade, não têm nenhum lastro, nenhuma evidência. Misturam-se ideias, conspirações… São coisas que chamam atenção. E quero fazer um contraponto ideológico, mostrar para a cidade que essas coisas não fazem o menor sentido. Vou contribuir muito para ajudar a refrear essas ideias desconexas com a realidade”, adianta o futuro vereador petista.

A última responsabilidade nos ombros de Primo é a de ser um dos poucos vereadores resolvidos a fazer um mandato de oposição à administração Arnaldinho Borgo na Câmara de Vila Velha:

“Eu me classifico como oposição, não tenha dúvida, uma oposição crítica e embasada em fatos e evidências. Minha posição será de um representante que quer o melhor para Vila Velha, que vai apoiar quando o projeto for de interesse do povo de Vila Velha e que vai contestar quando perceber equívocos. O intuito é sempre chegar em um melhor resultado”.

Ironicamente, aqui, como reconhece Primo, ele pode “se juntar” precisamente a vereadores do PL (eleitos no partido do Coronel Ramalho), seus opostos ideológicos, no rol de poucos parlamentares predispostos a fazer oposição à gestão de Arnaldinho.

“Patrick da Guarda e Devacir demonstram esse apetite, de fazer uma oposição à direita. Penso que será interessante, porque teremos que concordar e convergir em algumas pautas administrativas, embora em lados opostos em grandes debates ideológicos. Teremos grandes divergências ideológicas e aproximação pragmática”, resume Primo.

O outro vereador eleito pelo PL é o Pastor Fabiano Oliveira, estreante em mandatos.

Nos planos fiscalizatórios de Primo está, por exemplo, propor uma auditoria nos contratos mantidos pela Prefeitura de Vila Velha. “Fui subsecretário de Gestão no Governo do Espírito Santo. Tenho um conhecimento avançado de orçamento público. Vou ajudar muito na fiscalização e na proposição de gestão, inclusive na execução orçamentária e na prestação dos serviços. Quero propor um aprofundamento na fiscalização dos contratos, inclusive os terceirizados.”

E a posição do PT?

Ok, o único vereador do PT fará mandato de oposição a Arnaldinho. Mas e quanto ao próprio PT? Qual será a posição do partido em relação ao segundo governo do prefeito filiado ao Podemos (aliado do governo Lula no plano nacional)? Nas eleições municipais deste ano, o PT até teve a candidatura a prefeito do ex-vereador João Batista Babá, ele mesmo muito crítico a Arnaldinho, mas setores do partido não escondem a simpatia pelo atual governante.

No multissegmentado PT, Rafael Primo faz parte da mesma corrente de Babá e do deputado federal Helder Salomão. Mas a corrente dominante tanto no Diretório Estadual como no Municipal, a da deputada federal Jack Rocha, é mais simpática à atual gestão municipal.

Primo afirma que sua determinação em exercer mandato de oposição independe de tais diferenças internas.

“O PT é muito amplo e complexo. A corrente a que pertenço é crítica à gestão de Arnaldinho. Parte do PT queria ir com Arnaldinho na última eleição, e essa parte infelizmente pode apoiá-lo e até ir contra os meus posicionamentos. Mas isso não vai interferir no exercício do meu mandato, de maneira nenhuma. Entendo quem possa concordar com a atual gestão, mas represento essencialmente aqueles que discordam, principalmente nos desmandos ambientais e no abandono de fato das regiões mais pobres da cidade”, diz o futuro vereador.

Quem é Rafael Primo

Formado em Administração de Empresas pela Faculdade Novo Milênio, Rafael Primo atuou como bancário e no mercado privado. Em 2013, filiou-se pela primeira vez ao PT.

“Em 2015, com o movimento de impeachment de Dilma, por me posicionar de maneira veemente na defesa dela, fechei portas no mercado privado. Desde então, passei a me inserir na política de maneira veemente”, relata.

Primo chegou a participar de cursos de formação política promovidos por movimentos de orientação liberal, como o RenovaBR e a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS), parceira da Fundação Lemann.

Em 2018, ele filiou-se ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB, hoje federado com o PT) e concorreu a deputado estadual pelo outro partido de esquerda. Em 2020, tentou ser candidato a prefeito de Vila Velha pela Rede Sustentabilidade, mas teve a candidatura indeferida pelo TRE-ES por falta de prestação de contas da candidatura anterior, a deputado estadual, pelo PCdoB.

Logo depois dessa candidatura frustrada, em dezembro de 2020, ele voltou para o PT. “Identifiquei e tive a prova de que, mesmo com toda a complexidade e dificuldades que o PT apresenta, aqui é o meu partido. Não tem jeito. É aqui.”

Logo depois, no governo Casagrande (PSB), ele foi gerente de Políticas de Direitos Humanos e subsecretário de Gestão Administrativa, também na Secretaria de Estado de Direitos Humanos.


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