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Eliezer Batista, o pai do Espírito Santo moderno

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Eliezer Batista, o pai do Espírito Santo moderno. Foto: Reprodução

Eliezer Batista, o pai do Espírito Santo moderno. Foto: Reprodução

Se fosse possível desenhar uma espécie de árvore genealógica do estado do Espírito Santo moderno, certamente Eliezer Batista estaria na origem de todos os ramos. Era uma enciclopédia de conhecimentos técnicos com formação geral, histórica e filosófica de largo espectro. O fato de falar sete línguas como autodidata, retrata bem o senso de disciplina e perseverança para fazer as coisas acontecerem. Engenheiro de ferrovias, entrou na Vale em 1949 trabalhando com os americanos contratados para a reforma da Estrada de Ferro Vitória Minas. No início dos anos 1950 foi para os EUA aprender com as melhores ferrovias e refez todo o projeto da Vitória Minas criando uma das ferrovias mais eficientes e economicamente viáveis do mundo. Já voltou como superintendente-geral da ferrovia no papel e superintendente da Vale inteira na prática, porque era dos poucos que entendia do processo inteiro: mina, ferrovia e porto, o que o levou à Presidência da empresa em 1961, aos 36 anos.

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Nesse ano, fez a primeira de 177 viagens ao Japão, iniciando um relacionamento pessoal que daria muitos outros frutos. O primeiro projeto foi o Porto de Tubarão com a ideia grandiosa de resolver uma complicada equação logística: transformar a distância física em distância econômica. Além da falta de um porto de grandes dimensões, não havia navios capazes de transportar grande quantidade de minério. Exportar 5 ou 10 milhões de toneladas de minério era coisa de lunáticos para quem só exportava 1,5 milhão. Além do apoio à construção do Porto de Tubarão, o Japão construiu navios de maior porte, com 120 mil toneladas, com intensa articulação de Eliezer. Tubarão foi a maior revolução no transporte marítimo de granéis no mundo.

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A trajetória foi interrompida temporariamente em 1964. Acusado de comunista pelo golpe militar, foi trabalhar na iniciativa privada.

Na Vale, Eliezer havia incentivado o cultivo de eucalipto ao longo da Vitória Minas, pensando no transporte de madeira como carga para a ferrovia e vislumbrou a possibilidade de proporcionar um grande salto à indústria de papel e celulose no país. Em 1966 criou com parceiros a Lei Florestal, com incentivos para o plantio de florestas e montou a Aracruz Florestal, com o plantio de eucaliptos próximo à Barra do Riacho, embrião da Aracruz Celulose, hoje Suzano.

A relação com os japoneses viabilizou a criação da Cenibra em MG, a partir da grande extensão de florestas adquiridas pela Vale, que permitiram posteriormente a Bahia Sul e a Veracel no sul da Bahia, todas exportando pela Portocel, projeto facilitado pela construção, por Eliezer, do ramal da Vitoria Minas até Barra do Riacho.

Em 1968 é convidado para voltar à Vale para desbravar comercialmente a Europa. Novas relações com espanhóis e italianos e os conhecidos japoneses geram três usinas de pelotização em Vitória. Os mercados de toda a Europa e ainda Coreia, Oriente Médio e a África se abriram para o minério brasileiro. Convencido da importância de criar uma siderúrgica, atraiu japoneses e italianos e viabilizou a CST, hoje Arcelor Mittal Tubarão, que, por decisão política, não ficou com a Vale, mas com a Siderbrás.

Desenvolvimento sustentável foi sempre uma preocupação, desde quando garantia condições dignas para os trabalhadores ou convencia a Diretoria da Vale na década de 1950 a criar o que é hoje a Reserva Florestal de Sooretama ou quando em 1957 se encantava e construía seu sítio pioneiro em Pedra Azul, antes de existir a BR 262.

Um estrategista, sempre organizando as peças do Brasil e do mundo, uma personalidade que sempre sonhou grande, mas sempre foi lá e executou o sonho, como um engenheiro com alma de poeta que gostava de citar Fernando Pessoa: “Sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do mundo”.

Essa história é contada no livro “Conversas com Eliezer” de Luis Cesar Faro, Carlos Pousa e Cláudio Fernandez, sendo reeditado com patrocínio da Pelicano Construções.

Suas digitais estão em todos os grandes projetos que criaram o Espírito Santo moderno. Falta-lhe uma grande homenagem do estado. Sugiro uma estátua de corpo inteiro, com o braço estendido apontando para o oceano no novo Parque Costeiro da Vale em Camburi. E se houver interesse em mudar o nome da Avenida Dante Michelini, como já houve sugestões, que se denomine de Avenida Eliezer Batista esse caminho que nos leva ao Porto de Tubarão, sua grande obra.


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Evandro Milet

Evandro Milet é consultor, palestrante e articulista sobre tendências e estratégias para negócios inovadores. Possui Mestrado em Informática(PUC/RJ) e MBA em Administração(FGV/RJ). É Conselheiro de Administração certificado pelo IBGC e Conselheiro do CQC Inovação do Ibef/ES. Tem extensa experiência profissional, no Espírito Santo, Rio de Janeiro e Brasília, como empresário, executivo de empresas públicas e privadas, conselheiro de administração e consultor nas áreas de TI, inovação, qualidade, gestão, estratégia, empreendedorismo e meio ambiente, além de ser mentor e investidor em startups. Participa do programa EStúdio 360 Inovação na TV Capixaba e no programa Inovação na Band News FM. Co-autor do livro Vencedores pela editora Qualitymark. É atualmente Presidente do Cdmec- Centro Capixaba de Desenvolvimento Metalmecânico.

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