Coluna Inovação
A inovação aberta precisa ir mais fundo
De alguma forma, Fernando Pessoa, em 1918, vislumbrou uma situação que atinge sempre quem se propõe a criar uma startup: para qualquer ideia inovadora que você tenha, existe alguém em algum lugar do mundo tendo a mesma ideia ao mesmo tempo. Se você não correr, alguém vai sair na sua frente.
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Cada vez que me julgo
Inteligente vejo
Que há outro que já disse
O que vou ter ensejo
De dizer a seguir
Por isso já não digo,
Por isso me aprofundo
Ai, meu amigo
Há tanta gente inteligente neste mundo!
O problema é como ter uma ideia que ninguém teve, ou pelo menos algo que pouca gente tem capacidade de perceber. As primeiras levas de startups foram criadas pelo pessoal envolvido com tecnologia a partir das necessidades que percebiam no pequeno mundo em sua volta. Foi assim com Steve Jobs e Wozniak e o computador pessoal, Zuckerberg e a rede de contatos na universidade, mais tarde o Uber e a necessidade de locomoção , o AirBnB e o aproveitamento de propriedades ociosas para hospedagem.
Por aqui foi a mesma coisa, até replicando o que vinha de fora. Uber disso e daquilo, app de balada e soluções para as poucas dores que apareciam em volta.
Porém, as dores do mundo empresarial estavam escondidas dentro de cada empresa, de alguma forma imperceptíveis para quem estava fora dos seus limites. E não eram resolvidas pelo pessoal interno, sem a competência tecnológica específica para o estilo startups de modelo de negócio, velocidade e escalabilidade.
Como propor uma startup no setor de turismo se você não conhece como funciona um hotel ou uma agência; como montar uma no setor industrial se você não foi lá dentro ver como funciona; como ter uma ideia inovadora para restaurantes, laboratórios, construção civil ou comércio, se não conhece as suas dores potencialmente resolvíveis? Tudo bem que você tem que ter também a atualização tecnológica necessária para propor soluções antes impossíveis.
Nas grandes empresas aqui no estado, aconteceu, há alguns anos, uma exposição das necessidades de metal-mecânica que formou uma grande rede de fornecedores locais, hoje atuando fortemente em todo o país. Uma nova leva de abertura se consolida agora com a inovação aberta, dessa vez para startups do mundo digital.
A iniciativa resolve o problema do desconhecimento das candidatas à startups que não sabem o que se passa dentro das empresas e quais são suas dores. Importante que a inovação aberta, que começou com as grandes, se espalhe para as médias, bastante necessitadas de avanços tecnológicos. Podemos ter startups inovadoras em rochas, móveis, confecções, agronegócio, comércio exterior, logística, comércio, turismo, enfim todas as cadeias empresariais do Estado. As associações e sindicatos podem ter um papel importante nisso.
Se fizer só o que outros já fazem, será difícil ter sucesso, ainda mais nessa época que a IA sabe tudo. “Por isso me aprofundo”, como Pessoa concluiu, é a melhor saída.
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