Coluna Inovação
A falta de trabalhadores, a uberização e os agentes autônomos de IA
Para as vagas que exigem qualificação ficou uma postura de baixa dedicação ao trabalho, detectada por muitos empregadores
A gig economy tomou conta do mercado de trabalho. Uma tradução seria economia de bico, nossa velha conhecida dos profissionais que trabalham sozinhos, sem vínculo, tradicionalmente os eletricistas, bombeiros e engraxates, entre outros, mas agora todos digitalizados, inicialmente com smartphones, depois com plataformas, verdadeiros marketplaces de bico. Mas as plataformas jogaram nessa economia de bico perto de 2 milhões de pessoas que trabalham com transporte de passageiros e entrega de mercadorias, seja Uber e sucedâneos, seja iFood e um mar de concorrentes.
> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!
Há vagas, mas os pedreiros e outros do mesmo nível estão de moto ou bike por aí, normalmente arriscando a vida, mas faturando. Quem foi para Uber gostou da liberdade de horário e colocou o próprio carro para render. O chefe é o algoritmo, o que suscita mil discussões sobre direitos trabalhistas, aqui e no mundo. E nem querem pagar previdência. Mas como fica o futuro, quando não puderem mais trabalhar? Claro que irão para a conta do governo, isto é, para nós todos.
As empresas estão enfrentando dificuldades para preencher até mesmo vagas que demandam menor qualificação, que são geralmente as portas de entrada dos jovens no mercado de trabalho. É uma contradição que se aprofundou após a pandemia com a combinação de perda no aprendizado escolar, principalmente no ensino médio, e a menor chance de ganhar competências com experiências profissionais.
Para as vagas que exigem qualificação ficou uma postura de baixa dedicação ao trabalho, detectada por muitos empregadores.
Na área técnica, dos profissionais de TI – Tecnologia da Informação, a demanda da digitalização explosiva turbinou salários e colocou esses profissionais na condição de exigir home-office, que as características do trabalho favorecem e lhes deu a possibilidade de trabalhar para outras cidades ou países sem sair de casa.
Até as funções de RH ficaram remotas: recebimento de currículos, videoentrevistas, onboarding ou treinamento.
Tem um lado bom nessa história porque diminuem as discriminações. Precisam de gente independentemente de gênero, raça, idade, restrições físicas, tatuagens ou indumentárias. Os dress codes foram implodidos.
E o que podem fazer as empresas? Automatizar o que der e treinar pessoal, muitas fazem isso com sucesso até pagando bolsas para uma quantidade maior do que precisam para poder escolher os melhores. A inteligência artificial, muitas vezes considerada vilã por tirar empregos, passa a ser a salvação para quem quer empreender e não encontra pessoas para trabalhar. Os trabalhadores digitais, ou agentes de IA, substituem setores inteiros em empresas. E na agricultura, máquinas autônomas e drones inteligentes fazem o trabalho dos que sumiram.
Há poucos meses se dizia que as pessoas teriam a IA como auxiliar no trabalho e teriam de aprender a conviver com ela. Rapidamente a IA, com seus agentes autônomos, já dispensa os humanos por perto e não apenas ajuda o trabalho, mas executa tudo sozinha. Os avatares já estão aprendendo a conversar direito com gente e os robôs humanoides nem entraram de fato no mercado ainda. Mas não demoram.
Faculdades, por outro lado, perderam alunos que não querem mais aulas presenciais e muitos não querem nem uma graduação longa. Cinco anos para se formar? Pra quê se o mercado já não dá tanta importância para canudo, dizem eles, e vão para o mercado se empregar, virar empreendedores ou pilotar motos e Ubers.
E o Brasil está entrando na fase de ônus demográfico. É uma situação oposta a da vantagem produtiva que o país tinha há até pouco tempo, em que um grande contingente de jovens caracterizava um bônus demográfico. Com o envelhecimento acelerado da população, a tendência é que as empresas tenham cada vez mais dificuldade de contratar jovens para posições de entrada. Estão faltando jovens.
Então, que venha a inteligência artificial – com força.
Valorizamos sua opinião! Queremos tornar nosso portal ainda melhor para você. Por favor, dedique alguns minutos para responder à nossa pesquisa de satisfação. Sua opinião é importante. Clique aqui
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.