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Coluna André Andrès

O melhor vinho brasileiro não é gaúcho. Saiba onde e como ele é feito

O Sacramentos Sabina Syrah 2021 foi escolhido pelo Descorchados, o mais respeitado guia da América do Sul, como o melhor vinho produzido no Brasil

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O enólogo uruguaio Alejandro Cardozo e seu prêmio da Associação Brasileira de Enologia. (Fotos: Divulgação)

Há cerca de 10, 15 anos, os amantes de vinhos começaram a conhecer e a elogiar a produção vinda das serras catarinenses. Rótulos produzidos pela Villa Francioni ou pela Perícó, só para ficar em dois exemplos, ganharam espaço em degustações e destaque em premiações. Tempos depois, foi a vez de vinhos produzidos em Goiás, como o Intrépido, da vinícola Pirineus, elogiadíssimo pelo grande sommelier Manoel Beato. Mais ou menos pela mesma época surgiram os tintos e brancos feitos na Serra da Mantiqueira pela Guaspari em Espírito Santo do Pinhal, interior de São Paulo. Todas essas áreas apareceram como alternativas à tradicional produção dos vinhos do Rio Grande do Sul. Foram premiadas e reconhecidas, é verdade, mas poucas alcançaram o brilho atingido dias atrás pelo vinho originado da Serra da Canastra, em Minas Gerais.

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O Sacramentos Sabina Syrah 2021 foi escolhido pelo Descorchados, o mais respeitado guia da América do Sul, como o melhor vinho produzido no Brasil. Recebeu 93 pontos dos avaliadores e muitos elogios. “É para se beber aos litros”, definiu o rigoroso Patrício Tápias, autor de um grande puxão de orelhas nos produtores brasileiros, publicado na edição de 2021 do guia coordenado por ele.

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O vinho tem um trajeto curioso. Ele nasce na serra mineira, percorre um longo caminho, vai parar em terras gaúchas e é produzido por um uruguaio, radicado no Brasil desde 20o2. As uvas são produzidas na Serra da Canastra, nos vinhedos São Miguel, pela Vinifer, e levadas para Caxias do Sul, onde são recebidas e conduzidas pelo premiadíssimo Alejandro Cardozo, enólogo do ano em 2021 tanto do Descorchados quanto da Associação Brasileira de Enologia. Transporte de uvas entre seu local de produção e o de vinificação não é algo raro, mas a distância percorrida pelos cachos de Syrah entre Minas e Rio Grande do Sul, sim. São cerca de 1.500 quilômetros, ou quase 24 horas de viagem ininterrupta. E ela é mesmo feitas sem paradas demoradas: o caminhão, refrigerado, é conduzido por dois motoristas, para tornar a viagem mais rápida.

Ao chegar a Caxias, as uvas foram colocadas em tanques e receberam pouquíssima interferência. Parte nem foi tirada dos cachos. Todo o processo ocorreu sem passagem por barris de madeira. “Quando a fermentação terminou, estabilizamos, descansamos e engarrafamos, sem madeira, sem nada, contando apenas com a estrutura tânica da uva e dos engaços”, conta Alejandro, em recente entrevista para a revista Adega. O resultado é um vinho “cheio de frutas, flores, com corpo médio e taninos macios”, conforme a definição de Tápias no Descorchados.

Impressionante é o fato de este ser o primeiro projeto da vinícola Sacramentos Vinifer. Alejandro Cardozo afirma estar trabalhando, agora, em um Sauvignon Blanc. Minas já têm alguns brancos de ótima qualidade, como é o caso dos produzidos pela Maria Maria, na Mantiqueira. Se o enólogo uruguaio acertar a mão na produção em seu novo projeto e ganharmos um rótulo da mesma qualidade do Sabina, as serras mineiras irão consolidar sua posição na lista das áreas de produção vinícola do país, geograficamente distante do Rio Grande Sul, mas bem perto do status de alta qualidade anteriormente alcançado por Santa Catarina. Goiás, São Paulo…


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André Andrès

Há mais de 10 anos escrevo sobre vinhos. Não sou crítico. Sou um repórter. Além do conteúdo da garrafa, me interessa sua história e as histórias existentes em torno dela. Tento trazer para quem me dá o prazer da sua leitura o prazer encontrado nas taças de brancos, tintos e rosés. E acredite: esse prazer é tão inesgotável quanto o tema tratado neste espaço.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.