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Cobras, macaco e coruja: a rotina dos bichos na cidade

O terceiro episódio da série aborda três histórias de pessoas que criam pets nada convencionais em casa

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Ouça o terceiro episódio: 

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O desejo de ter um bicho diferente pode parecer incomum, até atípico. Está atrelado, muitas vezes, à busca por uma exclusividade. Mas, o que conta – e muito – na vida de quem escolhe cuidar destes pets, com certeza, é a paixão e o gosto por estes animais.

E, por falar em exclusividade, na casa do massoterapeuta Rafael Monteiro tem uma figura bem animada, ciumenta, super inteligente e, com certeza, não é qualquer pessoa que pode cuidar.

O Davi é um macaco-prego, capixaba, de quatro anos. O xodó da casa. Ele mora na Serra, em um ambiente com galhos, balanço e rede de proteção. Mas, ele não se contenta só com isso, não. O Davi adora passear e até andar de stand up nas praias.

“Ele tem contato o tempo inteiro com terra, com insetos. Isso é qualidade de vida. Achar que um animal desse vai ficar dentro de apartamento, dentro de casa 24 horas por dia, sem contato com a natureza, não existe. Além disso, tem a interação. Desde pequeno ele interage com várias pessoas”, conta Rafael.

Com hábitos bem parecidos aos dos humanos, ele possui várias roupas, usa fralda, adora comer amendoim e ainda toma mamadeira – mas o leite tem que estar morninho. No entanto, cuidar de um macaco não é simples. Ele escolhe um líder, é ciumento e precisa ter seu espaço. Pode ser, até mesmo, agressivo. Além disso, precisa de muita, mas muita, dedicação para construir um relacionamento saudável e não deixar o animal frustrado.

“O macaco é tipo assim: um líder só e mais ninguém. Comigo, é muito ciumento, apesar de treinado. Davi nunca é obrigado a fazer nada, até mesmo porque os macacos têm muita personalidade. Então, se você tenta impor a ele, já era. Ele vai tomar raiva de você. Não é igual cachorro que você bate e depois passa a mão”, explica.

E não é fácil: exige planejamento. Para se ter uma ideia, um macaco como o Davi pode custar até R$ 60 mil. Além dos gastos e do tempo dedicado para cuidar desses bichos, e, no caso de animais que vivem por mais tempo, como os macacos, que podem chegar até os 40 anos, é preciso pensar também em quem vai cuidar deles caso o tutor fique doente, ou até mesmo, após a morte.

Pensando no futuro, o médico veterinário Eduardo Lázaro, especialista em silvestres, alerta que a empolgação na hora da compra pode ser um pesadelo para quem quer ter estes animais em casa sem, sequer, planejar corretamente.

“São pessoas que estão empolgadas na compra. Viu na internet um macaco, por exemplo, que as pessoas se empolgam mais, porque tem vídeos tomando mamadeira, brincando. Ainda bem que ele é muito caro”, afirma.

Capixaba coleciona serpentes em São Paulo

Agora, pensa em um bicho que quase não dá trabalho. É a serpente. Aliás, as serpentes. O Fernando Mendes possui, apenas, 18 cobras dentro de casa. Algumas até passam de dois metros de comprimento. É a maior coleção particular de espécies de serpentes do Brasil. Fernando é jornalista, capixaba e mora em São Paulo com sua família de répteis.

“Hoje eu tenho a maior coleção de espécies de serpentes do Brasil. São animais que se alimentam de forma espaçada, não vão sofrer pela sua ausência. O que me encanta muito nesses bichos é toda essa paciência, essa natureza, a troca de pele, a forma como elas deslocam todos os ossos da cabeça para se alimentar”.

Apesar do período de alimentação das cobras ser mais tranquilo e não envolver tantos gastos com a comida, o tipo de alimento pode causar estranheza para quem não está preparado. Já pensou em comprar ratos para servir de alimento para outros animais? Ou, então, codornas a até coelhos?

“Eu vario bastante entre ratos e codornas. Já compro abatido, embalados à vácuo. Existe todo um mercado que já fornece esses alimentos congelados, é só aquecer um pouco e colocar dentro do terrário que elas comem”, explica.

Se você pensa que ter 18 cobras dentro de um apartamento é muito, para o Fernando ainda é pouco. Ele pensa em aumentar a coleção, apesar de já ter todas disponíveis no mercado, e só espera a abertura de novos criatórios no Brasil com espécies novas para adquirir.

Coruja: a rotina com hábitos noturnos

As serpentes não são os únicos pets que possuem essa alimentação mais natural. Quem tem vontade de ter uma coruja em casa, precisa se preparar para esse tipo de rotina. Junior Travassos é estudante de biologia e decidiu juntar tudo em um lugar só. Ele tem quatro serpentes e uma coruja suindara, a Sarabi, que possui um ano de idade mas pode viver até os 20.

“As minhas serpentes vieram de criadouros do norte do Brasil e algumas vieram do centro-oeste. A minha coruja veio de Minas Gerais. Todo animal legalizado você consegue comprar com contato diretamente com os criadouros, tanto as serpentes, corujas, falcões”, conta.

De hábitos noturnos, a coruja precisa de atenção, principalmente porque a interação é bem diferente do que os pets convencionais.

“Os únicos problemas que eu tenho com vocalização é na parte da noite, quando eu chego do trabalho. Durante o dia, é muito tranquilo, passa o tempo dormindo. Tanto a coruja quanto as serpentes não têm muita interação com os humanos. Eles vêem a gente somente como uma pessoa que alimenta. O que a gente associa é diferente do que um cachorro ou gato”, afirma.

No próximo episódio…

A Daniela, lá da reportagem anterior, que possui nove bichos dentro de casa; o Rafael, pai do Davi, o macaco-prego; o Fernando, dono da maior coleção de serpentes do Brasil; e o Junior, que tem uma coruja como pet; são tutores que buscaram, de forma legal, ter esses animais dentro de casa. Pensaram, planejaram e se organizaram para trazer tamanha responsabilidade para a rotina que envolve, muitas vezes, toda família.

Mas, um problema recorrente é o desejo impulsivo de ter animais silvestres ou exóticos dentro de casa sem avaliar as consequências que essa decisão pode trazer. Abandono de animais é crime previsto em lei, assim como maus-tratos.

Na próxima reportagem, vamos voltar o olhar para um outro lado e mostrar o trabalho de quem defende que esses animais não devem ser domesticados. Não por falta de bons exemplos como os desses tutores que você conheceu, mas pelo obscuro mercado ilegal, responsável pela morte da maioria dessas espécies.

Ouça o episódio anterior: Da compra à criação: os cuidados antes de domesticar um silvestre