Coluna Inovação
A urgência da educação vista da ponte
Uma experiência de valor, entretanto, pode nos mostrar o que poderia acontecer quando o país realmente oferecesse educação de qualidade para todos
O Brasil só poderá se considerar desenvolvido quando resolver o problema da educação e quando a escola do pobre for igual à do rico. Enquanto isso, milhões de possíveis cientistas, artistas, engenheiras, médicos, escritoras, arquitetos ou diplomatas, que poderiam contribuir para a grandeza e o PIB do país, ficam pelo caminho da pobreza, da discriminação e da falta de oportunidade para frequentar uma escola de qualidade.
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Uma experiência de valor, entretanto, pode nos mostrar o que poderia acontecer quando o país realmente oferecesse educação de qualidade para todos.
Aqui no Espírito Santo, uma ONG, o Instituto Ponte(www.institutoponte.org.br), apoiado por empresas, criou um modelo que, infelizmente, não pode ser generalizado, mas que nos permite vislumbrar o efeito que poderia acontecer em massa no país com uma educação de qualidade.
Com uma busca ativa de pequenas jóias, alunas e alunos de escolas públicas, com alto desempenho escolar ou que se destacam em olimpíadas de matemática, de famílias com até 1,5 salários mínimos por membro familiar, são pinçados pelo programa e passam a frequentar as caras e ótimas escolas privadas da capital, onde não teriam a menor chance em situações normais.
Olheiros, como aqueles que descobrem os grandes craques do futebol, a partir de uma indicação ou uma lista de olimpíada, vão seguir pistas até encontrar aquele futuro craque, não do futebol, mas que bate um bolão nos estudos. Buscam os talentos para fazer sua ascensão social em uma geração, para terem o poder de escolha, mudando a vida deles e da família e servindo de exemplo para a comunidade onde vivem.
Hoje são quase 300 bolsistas, que passam por 16 escolas particulares conceituadas, com bolsas ofertadas, e cursos de inglês do mercado, sendo 63 já universitários em faculdades de alto nível em medicina (10% deles), engenharia, computação, economia, direito, arquitetura, ou no que quiserem, aqui no estado ou na Unicamp, USP ou Insper.
Todos são acompanhados por uma equipe de psicólogos, pedagogos e orientadores para conseguirem administrar essa mudança de vida que envolve a família de baixa renda, com todos os problemas que se pode imaginar.
Como conviver um jovem com essa condição em uma escola onde os frequentadores têm um nível de renda bem superior, com um estilo de vida inimaginável para eles? Bullying? Isolamento? Não. Eles conquistam a admiração dos colegas pela inteligência e pelo esforço de quem sabe que não pode perder a oportunidade. Uma aluna, respondendo como se via participando de uma festa de 15 anos de uma colega de alta renda, com um vestido emprestado por colegas, sonha confiante e resolvida: “que bom que posso ir, um dia eu também vou poder dar uma festa”.
Do outro lado, o programa faz bem às escolas que acolhem os alunos com a oportunidade de possibilitar uma convivência com a diversidade de renda ou cor da pele, o que não costuma acontecer nesse ambiente.
Infelizmente, no processo aberto que é feito, são 19 candidatos para uma vaga, por absoluta falta de recursos da ONG, ainda mais agora que a oportunidade foi aberta para outros estados.
Fazendo a ponte para um número reduzido de alunos fora da média, escondidos pela desigualdade, para exercer suas capacidades na plenitude, o Instituto Ponte nos apresenta uma amostra do que o Brasil está desperdiçando em milhões de talentos jogados fora na falta de prioridade histórica nacional na educação.
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