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Coluna André Andrès

Cinco sinais de que seu vinho pode ser falsificado ou contrabandeado

Do preço ao contrarrótulo, veja como saber se aquela garrafa de um grande vinho chileno pode ser uma armadilha para quem não presta atenção em detalhes essenciais

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Você recebe na sua caixa de mensagens de WhatsApp uma oferta quase inacreditável: aquele vinho chileno, famoso, encontrado a preços bem amargos nas lojas e supermercados está sendo oferecido pela metade do preço. Parece ser bom demais para ser verdade. E realmente você está prestes a comprar um vinho de origem pelo menos suspeita. Porque não há milagre nessa área: a carga tributária cobrada sobre a bebida é alta, o custo de importação (transporte, armazenamento etc.) também. Como o preço inclui uma margem de lucro para o comerciante, um vinho só chega às mãos pela metade do preço (ou até menos) porque, provavelmente, é fruto de contrabando ou, pior, foi produzido em algum local bem distante do Chile. Quem sabe em algum galpão perto de sua casa.

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Vinhos contrabandeados ou falsificados são cada vez mais comuns,  infelizmente, entre nós. E há até quem estabeleça ligação entre essa prática e facções criminosas espalhadas pelo país. Quem compra vinhos assim corre muitos riscos. A bebida pode, por exemplo, ser fruto de uma “mágica”: um tinto de péssima qualidade vira um ícone argentino ou chileno só porque saiu de um garrafa de cinco litros e foi parar em uma garrafa com rótulo nobre. Ou ela pode até ser original, mas, sem documentação legal, ter sido trazida na caçamba de uma caminhonete, sob sol e chuva, situação perfeita para o vinho ficar “cozido”, sem aroma, sem gosto, sem nada…

Os alvos tanto do contrabando quanto da falsificação são tintos famosos, de renome. A Mistral, grande importadora, anunciou medidas para tentar proteger a linha da Catena, excelente vinícola argentina. Na explicação sobre a medida adota, a Mistral apresenta a Catena como “a vinícola que mais sofre atualmente com a proliferação do contrabando e das falsificações”. Por conta disso, a empresa desenvolveu um selo de segurança, usado juntamente com o rótulo, em parceria com a Catena Zapata. A medida mostra tanto a preocupação da importadora e da vinícola quanto o alvo típico da ação dos criminosos: vinhos famosos entre os consumidores brasileiros.

Bom, e como saber se o vinho foi contrabandeado ou é falsificado? O primeiro ponto já foi citado acima, mas vamos reforçá-lo e apontar outras maneiras de verificar a procedência da garrafa comprada por você:

O preço – Como dito acima, não há milagre. Vinhos europeus, por exemplo, chegam aqui por mais ou menos dez vezes seu valor de face na Europa. Vinho de dez euros, por exemplo, não têm como ser vendidos aqui a R$ 50. Em média, custarão o dobro disso. Se um vinho argentino normalmente custa R$ 200 e você recebe uma oferta de garrafas a R$ 80 é sinal claro de algo bem obscuro. Enfim, se a oferta é boa demais, desconfie.

Contrarrótulo de vinho

Um contrarrótulo com as informações exigidas por lei: informações em português, registro no Mapa (na coluna à esquerda) e o nome, o endereço e os dados do importador, na coluna da direita. Foto: reprodução

O contrarrótulo -Na maioria das vezes, ele é deixado em segundo plano. E deveria receber tanta atenção quanto o rótulo, exposto na parte frontal da garrafa. Ele tem de trazer informações em português. Nem sempre todo o contrarrótulo vem traduzido, mas algumas informações fundamentais têm de obrigatoriamente estar ali estampadas. É o caso do nome, do CNPJ  e do endereço do do importador.

O número do Mapa – Mapa é a sigla de Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Para serem comercializados, os vinhos precisam ter esse registro, conseguido após avaliação de técnicos autorizados pelo ministério (no caso do Espírito, esse trabalho é feito na Ufes). O número do Mapa tem de também estar no contrarrótulo, assim como os dados do importador ou do produtor de vinhos nacionais.

Os sinais exteriores – O acabamento das garrafas merece atenção especial nas vinícolas. Por isso, um rótulo mal aplicado na garrafa, um sinal de cola no rótulo, a cor da garrafa e até mesmo a baixa qualidade da rolha podem ser sinais de falsificação.

As condições da garrafa – Como esses vinhos são trazidos ou produzidos sem as condições ideais, é comum alguma garrafa se quebrar e manchar os rótulos das outras. Por isso, fuja de garrafas em más condições. Isso pode parecer meio óbvio, mas é um argumento usado pelos falsificadores ou contrabandistas. Ou seja, o vinho está mais barato por ter sido alguma avaria. Realmente a garrafa sofreu, mas esse não é o motivo de ela estar sendo vendida mais barata, mas, sim, o fato de não ter recaído sobre ela as taxas de importação, por exemplo.

Cuidado com as compras informais – Durante a pandemia, principalmente, surgiram muitas lojas virtuais de vinho. E as ofertas via WhatsApp também se tornaram muito comuns. Há quem faça esse trabalho de forma muito honesta, correta, como tem de ser feito. Mas como em praticamente todas as atividades, também existem as figuras desonestas, capazes de se aproximar de grupos por meio de mensagens com ofertas muito vantajosas. O ideal é adquirir garrafas de quem pode comprovar a procedência delas, e, com emissão das notas fiscais. Isso reduz, e muito, a possibilidade de você ser enganado.

Para encerrar, uma observação: no Brasil, o contrabando é um crime mais comum. A falsificação acontece de modo mais constante na Europa e em mercados de altíssimo consumo, como a China. Antes restrito a rótulos muito caros, a falsificação hoje pode ocorrer com vinhos mais baratos. De forma geral, a regra é a mesma, ou seja, na dúvida, não fique com o vinho. É melhor gastar um pouco mais e provar algo confiável, porque a opção mais barata pode lhe render uma enorme dor de cabeça. Literalmente…


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André Andrès

Há mais de 10 anos escrevo sobre vinhos. Não sou crítico. Sou um repórter. Além do conteúdo da garrafa, me interessa sua história e as histórias existentes em torno dela. Tento trazer para quem me dá o prazer da sua leitura o prazer encontrado nas taças de brancos, tintos e rosés. E acredite: esse prazer é tão inesgotável quanto o tema tratado neste espaço.

Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.