Vinhos da quarentena (03) – O desconhecido

Um desses muitos textos atribuídos a Clarice Lispector, mas jamais escrito por ela, estimula as pessoas a mudarem seus hábitos mais renitentes até atingir mudanças maiores na vida. “Mude de sabonete, mude de carro, mude de profissão”, vai sugerindo o texto, estimulando a busca pelo novo, como fórmulas para tornar a vida mais interessante, mais rica, mais feliz. Se a busca pelo desconhecido é uma opção de vida, no caso dos vinhos é uma imposição. Perde muito quem insiste nos mesmos rótulos, bebe das mesmas garrafas, prova das mesmas uvas. Vinhos foram feitos para serem descobertos. Erra quem não arrisca e, por exemplo, deixa de tomar um branco esloveno, feito com a mais conhecida das uvas húngaras (a Furmint) mesclada com a menos conhecida Pinot Blanc, casta usada principalmente em vinhos da Alsácia. O Puklavec Estate é fresco, com acidez equilibrada, e vai muito bem com frutos do mar grelhados. Custou uns R$ 70, acho. Bom preço. Vale comprar. No mínimo para você colocar na mesa um vinho produzido na região de Stajerska (“Onde?”, será a pergunta inevitável. E você repetirá, dando uma “aula” no assunto: S t a j e r s k a). Se alguém eventualmente estranhar, você pode recorrer novamente ao falso texto de Clarice Lispector e explicar o motivo de encarar o desconhecido: “A salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena…” Abra o vinho. Compartilhe o desconhecido. E seja feliz.
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