IBEF Academy
A primeira inflação do mundo é romana
- Por Yara Dadalto Garcia
Por volta de 300 a.C., Roma copiou da Grécia a prática de cunhar discos de metal e usá-los como dinheiro em troca de mercadorias e serviços, impulsionando o desenvolvimento da sua economia. Graças à criação do dinheiro, um padeiro não precisa pagar com pão o serviço prestado pelo pedreiro.
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Porém, os romanos não tinham o dom do comércio, eles tinham o dom de invadir terras, anexar os territórios e pegar para si toda a riqueza e tudo o que aquele local produzisse. Um país em guerra precisa bancar os altos custos que ela exige. Em 264 a.C., Roma entrava em guerra com Cartago, um império tão grande quanto Roma, o que exigiu grandes esforços e muito dinheiro para bancar a fabricação de armas e manter milhares de soldados, alimentos e outros itens para os combatentes. E como Roma fazia? Produzia o tanto de dinheiro que precisasse.
E é aí que mora o perigo: quando o governo possui a “máquina de fazer dinheiro”, ele pode produzir o tanto de dinheiro que quiser. Alexandre Versignassi, em seu livro Crash, compara a economia com um aquário e o dinheiro com a ração do peixe, e ilustra: “Se você jogar ração de menos ali, o bichinho morre de fome; se der de mais, a ração rouba oxigênio da água, e o peixe sufoca”. Para ser saudável, a quantidade de dinheiro produzida pelo governo precisa acompanhar o crescimento da produção de bens e serviços, ou seja, precisa ter lastro, ter garantia de que o que tem na sua carteira vale alguma coisa.
Por sorte, essa equação deu certo durante muitos anos. À medida que ganhava guerras, Roma pegava as riquezas daquele território para si, como metais preciosos, armas, a produção das lavouras, enfim, tudo o que poderia gerar riqueza, e, no final das contas, a quantidade de dinheiro produzido era acompanhada pelos frutos da guerra. Até que, uma hora, o império produziu tanto dinheiro que o peixinho morreu sufocado. O excesso de dinheiro matou o peixinho de inflação.
Quando há um volume muito grande de dinheiro na economia que não está acompanhando a capacidade de produção e criação de riquezas, o resultado é a falta de produtos nas prateleiras. Exemplificando grosseiramente, imagine que, de tanto o governo imprimir dinheiro para pagar as contas, a população estava cheia de dinheiro na carteira. Agora que você tem mais dinheiro na conta, vai aproveitar para trocar o piso da cozinha, mas, quando chega à loja de material de construção, vê que o preço do piso mais que dobrou. A questão é: não é só você que está com mais dinheiro na conta, dessa forma mais pessoas quiseram reformar a casa e comprar piso. Só que o número de pessoas comprando piso cresceu tanto que o fabricante simplesmente não consegue dar conta de extrair a sua matéria-prima para suprir toda a demanda.
O fabricante de pisos precisa comprar mais máquinas para a extração e para a produção, porém o fabricante das máquinas também recebeu uma enorme quantidade de pedidos e, do mesmo modo, não está conseguindo produzir toda a demanda necessária. O que acontece então? Os preços sobem por efeito cascata! As máquinas demoram para ficar prontas, atrasam o tempo de produção do fabricante de pisos, que atrasa a reposição do estoque na loja de material de construção.
Resultado: pouquíssimos produtos nas prateleiras, e o pouco que tem está mais caro, já que o seu João, dono da loja de material de construção, não pode vender pelo preço normal e ficar sem produto até sabe-se lá quando. Então, ele aumenta o preço dos pisos. Até dinheiro em excesso faz mal!
Sobre o autor

Yara Dadalto Garcia. Foto: Divulgação
Yara Dadalto Garcia é membro do IBEF Academy. Graduada em Administração de Empresas, é Analista de Processos, área em que atua há mais de cinco anos.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.
