Coluna Vitor Vogas
Cordel Político: Marcos do Val e a Saga do Senador Sagaz
Para alguns, doido de pedra, / ou rei do tiro no pé. / O laudo médico atesta: / maluco mesmo não é. / Meu senhor e minha senhora, / aproximem-se agora, / pois começo a lhes narrar / a história de Do Val, / o senador federal / que vocês vão se amarrar.
Para alguns, doido de pedra,
ou rei do tiro no pé.
O laudo médico atesta:
maluco mesmo não é.
Meu senhor e minha senhora,
aproximem-se agora,
pois começo a lhes narrar
a história de Do Val,
o senador federal
que vocês vão se amarrar.
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O homem diz uma coisa,
dá entrevista em minúcias,
mas depois apaga a lousa:
“Não contavam com minh’astúcia!”
Ele fala e se desmente,
se contradiz prontamente.
Em intervalos breves,
muda toda a narrativa,
reescreve a própria escrita.
O que diz não se escreve…
O homem refuta, nega,
recusa a alcunha, rechaça,
mas tem “Bolsonaro” na testa,
chamou seus filhos de “parças”.
Pra Mesa, porém, do Senado,
abraçou (real) o outro lado,
início do inferno astral
que ele criou pra si mesmo.
E agora é assim, a esmo,
que atravessa o temporal.
“Traidor” e outros insultos
escutou do MBL,
sentiu a trolagem na pele,
desabafou: “Fico puto
quando ouço ‘bolsonarista’!
Vocês vão ver na revista!
Uma bomba eu soltei!
Bolsonaro me coagiu
Para um golpe no Brasil!!
Me neguei e denunciei!!!”
Ora, Veja só que drama:
o senador, com requintes,
contou a sórdida trama,
e o enredo é o seguinte:
Em dezembro o Silveira
o chamou: “Tá de bobeira?
O chefe de toda a parada
tem missão pra tu, Do Val.
Tu vai ser herói nacional!
Bora lá pro Alvorada!”
Dois dias depois ele foi
com Silveira ao encontro
do Jair. Só ele e os dois
no combinado ponto.
Conforme, então, o relato
que fez à Veja dos fatos,
ouviu do próprio Jair
o plano de conspiração.
A ordem para a “missão”
foi-lhe dada bem ali.
A missão seria um grampo
em um papo com o Xandão,
gravá-lo se incriminando,
fazendo uma confissão
de que “agiu fora do campo,
das linhas da Constituição”.
Tudo isso pra impedir
o Lula de ser enfaixado,
deixar o Xandão pichado
e então no poder prosseguir.
O complô tão aloprado
com a marca Tabajara
não foi mesmo perpetrado.
Do Val diz que disse “Cara,
vou declinar da missão”
e que avisou o Xandão.
Pelo menos na entrevista,
foi essa a primeira versão
que deu à publicação,
com o Jair protagonista!
Também fez, de madrugada,
anúncio da própria renúncia.
Mas horas depois, que nada:
“Não contavam com minh’astúcia!”
Após ligação do Eduardo
e do Flávio: “Fico no cargo!”
E, aumentando a confusão,
passou a dar mil versões,
diversas contradições,
pra geral estupefação.
O principal desmentido:
sobre o papel do Jair.
Apagou o “coagido”:
“Ele só ficou a ouvir”.
Pôs-se, então, a amenizar,
reduzir, minimizar
a sua parte na jogada,
mas manteve que, à saída,
à porta, na despedida,
ouviu dele: “Nós aguarda”.
E, ante tanto espalhafato,
ninguém atina nem entende
o que o Do Val, de fato,
com essa bagunça pretende.
Já depôs aos “seus amigos”.
Foi às lágrimas ao vivo!
Seus vários depoimentos?
“É tudo manipulado!”
Friamente calculados
são todos os seus movimentos.
Jogador de tiro ao alvo?
Ou uma peça no xadrez?
Logo depois, novo salto,
Dia 3, vejam vocês:
“Vou mover uma ação
para impedir o Xandão
de investigar golpistas!
E tem mais: lá no Senado,
têm que ser investigados
o governo Lula e lulistas”.
Pode ser que o calendário
tenha inspirado Do Val:
os enredos foram vários,
verdadeiro carnaval!
Só que tanta “inteligência”
esgotou a paciência
do Xandão: “Chega de show!”
Novo inquérito aberto
pra apurar de perto, ao certo,
o que de fato rolou.
E agora ninguém sabe
se em verdade, desde o início,
o ex-instrutor da Swat
estava agindo a serviço
do agora ex-presida
ou se está só à deriva,
a errar e a se enterrar
a cada errático passo.
Deixando-lhes grande abraço,
Por aqui vou encerrar.
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